Gestão de Orçamento Pessoal: O Método 50/30/20

Hoje em dia, somos bombardeados com publicidades e partilhas sobre investimentos, sobre ganhos rápidos em produtos que nem sempre percebemos e nos resultados praticamente garantidos nesses mesmos investimentos. Isso atrai qualquer um certo? Quem é que não gostava de enriquecer rapidamente e garantidamente, seguindo apenas dicas de alguém? Infelizmente, na esmagadora maioria das situações, esses investimentos garantidos e rentáveis estão longe de ser reais.

No entanto, isto não nos deve afastar do mundo dos investimentos. Deve apenas ser um elemento motivador para aprendermos sobre o tema e tomarmos melhores decisões. De qualquer forma, antes de entrar por esse mundo dos investimentos, há um passo essencial a tomar e que é, demasiadas vezes, esquecido: o nosso orçamento pessoal. Neste artigo vamos falar sobre a importância de uma correta gestão do nosso orçamento e do impacto que ele tem em tudo o que é relacionado com a nossa vida financeira.

Qual é a importância de ter um orçamento?

Quando queremos fazer uma obra em casa, o que fazemos? Pedimos um orçamento. Quando há uma reparação mais dispendiosa no nosso carro, o que pedimos? Um orçamento. Então se pedimos orçamentos a outros para sabermos onde vai ser gasto o nosso dinheiro, porque não havemos de pedir a nós próprios também um orçamento todos os meses, para sabermos onde nós vamos gastar o nosso dinheiro?

Um orçamento pessoal correto, atualizado e realista é a base essencial de qualquer vida financeira equilibrada já que é com base nele que iremos tomar uma série de decisões na nossa vida. Se não soubermos quanto ganhamos e quanto gastamos, nunca vamos conseguir perceber o que temos de fazer para podermos melhorar a nossa situação financeira. Faz sentido, certo?

Como se faz um orçamento?

Um orçamento divide-se em 4 tópicos essenciais e que devemos controlar:

  1. Rendimentos: todo o dinheiro que recebemos
  2. Despesas: todo o dinheiro que gastamos
  3. Ativo: tudo aquilo que temos e que vale dinheiro
  4. Passivo: as nossas dívidas

É essencial controlarmos ambas as partes da equação e ter sempre em mente que o dinheiro que nos sobra ao final do mês depende apenas de duas coisas: quanto ganhamos e quanto gastamos. É um daqueles casos em que a matemática é simples. Se queremos que sobre mais dinheiro, então só temos duas hipóteses: ganhar mais ou gastar menos.

Existem várias formas de criarmos e mantermos este nosso orçamento pessoal e devemos escolher a forma que nos for mais simples, cómoda e rápida, para aumentar as nossas probabilidades de sucesso. A forma pode ser em papel e caneta, utilizando uma aplicação, ou então, o que eu utilizo que é o famoso, simples mas tremendamente eficiente Excel e disponibilizo aqui um modelo que poderá ser utilizado como ponto de partida e depois customizado à medida das necessidades de cada um.

Os passos para o controlo do orçamento

Escolhida a melhor forma de controlo, vamos então começar a construir o nosso orçamento pessoal, através dos seguintes passos:

1. Verificar os últimos extratos bancários

Através da aplicação ou site do nosso banco, ou até em papel, caso tenhamos essa opção ativa, temos acesso aos nossos extratos bancários e o primeiro passo é olhar para eles e começar a perceber exatamente quanto ganhamos e quanto gastamos.

Apesar de não haver uma regra fixa, eu sugiro que se tenham em atenção, pelo menos, os últimos 3 meses já que isso nos dará uma perspetiva mais alargada dos nossos hábitos e não ficamos condicionados à análise de um mês particularmente bom ou mau. No entanto, caso não seja possível ou não tenhamos essa disponibilidade de ver o que está para trás, podemos sempre começar do zero e definir que a partir de hoje mesmo teremos controlo sobre as nossas finanças e sobre o nosso orçamento.

Este primeiro passo vai dar-nos uma ideia geral de como gerimos o nosso dinheiro. No entanto, precisamos de ir muito mais ao detalhe e é isso que vamos fazer no segundo ponto.

2. Categorizar todos os movimentos

Olhando para o nosso extrato bancário, podemos ter dezenas de linhas com vários movimentos e é fácil sentirmo-nos perdidos no meio de tanta informação. Por esse motivo, teremos de categorizar e agregar os movimentos de uma forma lógica e que faça sentido para nós.

Por exemplo, é pouco interessante ver que fomos 15 vezes ao supermercado durante o mês e que as compras variaram entre 2€ e 50€. O que realmente interessa é que durante o mês gastámos, por exemplo, 200€ no supermercado e é sobre esse número que depois podemos analisar e implementar algumas estratégias ou mudanças, caso seja isso que queiramos.

Assim, vamos então agrupar os movimentos e somando os valores em cada categoria. O número e tipo de categorias não segue uma lógica fixa e depende grandemente da pessoa e dos seus hábitos. Devemos ter categorias suficientemente detalhadas para que saibamos exatamente o que lá está considerado mas não devemos ter categorias tão detalhadas que são usadas uma vez por ano. A prática irá afinar este número e eventualmente chegaremos ao número de categorias ideal para nós.

3. Listar todos os ativos e passivos

Além dos nossos rendimentos e gastos que vimos no ponto anterior, devemos também controlar os nossos ativos e passivos, ou seja, aquilo que temos e aquilo que devemos, respetivamente. Tudo o que temos e que é dinheiro ou pode ser vendido e transformado em dinheiro é um ativo e todas as nossas dívidas são um passivo.

Um exemplo claro é a nossa casa própria sobre a qual temos um empréstimo. Vamos supor que a casa vale 150.000€ e que a dívida do nosso Crédito Habitação é de 100.000€. Neste caso teremos um ativo de 150.000€ e um passivo de 100.000€. Esta é a lógica que deve ser aplicada a tudo o que temos e tudo o que devemos.

Então e porque é importante controlar o ativo e o passivo? Porque isso é o que se traduz na nossa real riqueza financeira ou, tecnicamente falando, o nosso património líquido. O património líquido é igual aos nossos ativos, deduzidos dos nossos passivos. Utilizando novamente o exemplo da casa com Crédito Habitação: temos um ativo de 150.000€ e um passivo de 100.000€, logo temos um património líquido de 50.000€.

4. Definir a frequência da atualização

O último passo é definir de quanto em quanto tempo iremos rever e atualizar todos estes valores que estivemos a falar nos pontos anteriores.

A minha recomendação é que esta atualização seja o mais frequente possível acontecendo, idealmente, todos os dias. Depois do esforço inicial para montar todo o processo, serão precisos poucos minutos diariamente para atualizar o que for necessário e garantir que temos sempre uma visão realista do que está a acontecer.

Esta tarefa diária de olharmos para o nosso orçamento torna-se também essencial para ganharmos o hábito de pensarmos, vermos e controlarmos o nosso dinheiro diariamente e isso facilita tudo o resto.

Uma forma de gerir o orçamento: A regra 50/30/20

A gestão do orçamento pessoal é uma coisa, como o nome indica, muito pessoal. No entanto, há diversas formas, métodos e ideias de como o podemos fazer e aqui vamos falar de uma das mais conhecidas: a regra 50/30/20.

Esta regra diz-nos que devemos dividir o nosso dinheiro em 3 grandes grupos, conforme vamos ver.

1. 50% para Necessidades

De acordo com esta regra, devemos reservar 50% do nosso orçamento para as nossas necessidades, ou seja, para aquelas despesas essenciais como, por exemplo, renda de casa, compras de supermercado ou contas de água, luz e gás

Isto significa que se tivermos rendimentos mensais de 1.000€, então devemos conseguir gastar apenas 500€ neste tipo de despesas.

Porque é importante conseguirmos fazê-lo? Porque isto significa que estamos a viver, na verdade, a 50% da nossa capacidade e isso quer dizer que se existir algum imprevisto e virmos os nossos rendimentos reduzidos a metade, nenhuma das nossas necessidades fica comprometida.

2. 30% para Desejos

O segundo grupo define que devemos reservar 30% do nosso orçamento para desejos, ou seja, tudo aquilo que não precisamos realmente mas que queremos ter. Neste grupo incluem-se coisas como férias, jantares fora, presentes e outras coisas do género. 

Se tivermos 1.000€ de rendimentos, devemos reservar 300€ para este tipo de coisas. Parece demasiado? Talvez, mas há um bom motivo para reservar uma fatia considerável para este tipo de gastos, sempre que tal for possível.

A vida é feita de experiências e muitas delas custam dinheiro. Se imaginarmos uma vida apenas a pagar contas, parece-nos algo vazia, certo? Por esse motivo é importante termos uma fatia generosa do nosso orçamento para coisas que nos satisfaçam e que tragam valor às nossas vidas. Cada um verá estes desejos de forma diferente e deve adaptar àquilo que mais sentido fizer.

3. 20% para Poupanças e Investimentos

O terceiro e último grupo é reservado para poupar e investir. São coisas diferentes, com objetivos e funcionamentos diferentes mas ambos extremamente importantes e, na verdade, essenciais para uma vida financeira realmente saudável.

O mundo das poupanças e investimentos é muito vasto e dará, por si só, vários artigos e várias horas de leitura e conversa. No entanto, partilho aqui uma visão geral de como tudo funciona.

Estes 20% são aqueles que nos vão garantir a tranquilidade financeira, tanto a curto prazo como a longo prazo. Até pode parecer pouco mas vamos pôr as coisas desta forma: se todos os meses colocarmos 20% do nosso ordenado de parte, incluindo nos subsídios de férias e Natal, a cada ano teremos sensivelmente 3 meses de ordenado poupado ou investido. Isso põe as coisas numa perspetiva bastante diferente, certo?

Dica Bónus sobre o método 50/30/20

Podemos ler este artigo e este método e achar que é inalcançável. O comentário mais habitual é que as necessidades representam muito mais do que 50% no nosso orçamento e que, por isso, esta regra não faz sentido.

A minha sugestão? Fazer contas e olhar com calma e paciência para os números que estão à nossa frente e ver o que podemos fazer. Um exemplo claro: a nossa fatura de eletricidade. Como é óbvio, a eletricidade é uma necessidade. No entanto, existem inúmeros comercializadores de eletricidade e com preços, muitas vezes, bastante diferentes entre eles. Então porque não mudar para um que seja mais barato? Depois é pegar nesse mesmo raciocínio e aplicar a tudo o resto que está à nossa frente e começar a somar essas poupanças imediatas.

Se mesmo depois de todos esses cortes, não se conseguir chegar a percentagens minimamente semelhantes a estas, então devemos lembrarmo-nos que se queremos que sobre mais dinheiro, então só temos duas hipóteses: ganhar mais ou gastar menos. Se já não conseguimos gastar menos, então é tempo de ganhar mais. Isto pode passar por um aumento do salário, por procurar um outro trabalho ou até começar um negócio próprio. Pode ser algo permanente ou temporário apenas enquanto as contas se equilibram. Tudo depende da pessoa e da situação em que está. Uma coisa é certa: para 99% de nós há uma solução para melhorar a nossa situação financeira se assim o quisermos fazer.

Resumo e Conclusão

Neste artigo, falamos e aprendemos sobre a importância de criar e gerir um orçamento pessoal assim como algumas dicas e formas de gerir um orçamento de forma equilibrada e aumentar as probabilidades de termos uma vida financeira estável e de sucesso.

No entanto, e no final de contas, tudo depende de cada um de nós. Antes de começarmos a aplicar métodos e a colocar números numa folha de papel, teremos de ter uma conversa connosco e mentalizarmo-nos da importância disto e ganharmos sensibilidade para o impacto que esta mudança vai ter nas nossas vidas.

Tudo se vai resolver com um orçamento? Claro que não! Isto é apenas um começo. O caminho da educação financeira é longo e há muito para aprender, mas saltarmos passos e começarmos a fazer coisas mais complexas sem dominar as bases é uma receita para o insucesso e para a frustração. Se fizermos as coisas com calma, passo e passo e à medida das nossas capacidades e conhecimentos, aumentamos drasticamente as nossas probabilidades de sucesso.

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