Como investir com estratégia: Construção de um Portfólio “Global” Diversificado

Neste artigo, exploraremos o desempenho de um portfólio diversificado, abrangendo o período de janeiro de 2018 até agosto de 2023. Escolhemos começar em 2018 por duas razões principais. Primeiro, consideramos que um período de aproximadamente cinco anos oferece uma perspetiva de médio prazo adequada para avaliar a eficácia de uma estratégia de investimento. Segundo, a inclusão de criptomoedas no nosso portfólio torna a escolha do ano de 2018 particularmente relevante. As criptomoedas, embora criadas em 2009, só ganharam tração significativa e mais reconhecimento a partir de 2012. Se tivéssemos entendermos o nosso horizonte de análise para dez anos, o impacto das criptomoedas no retorno total teria sido desproporcionalmente elevado, dada a sua ascensão meteórica durante esse período. Portanto, a nossa análise visa proporcionar uma visão equilibrada e realista do desempenho do portfólio.

Os ativos incluídos neste portfólio foram selecionados com base principalmente em sua popularidade. A abordagem aqui não se concentra em uma análise excessivamente técnica desses ativos. Em vez disso, buscamos uma compreensão acessível, mesmo para aqueles com conhecimentos limitados, para que possam ter uma ideia clara do destino dos próprios investimentos.

Esta jornada vai nos levar a construir um portfólio que abrange uma variedade de classes de ativos, todos escolhidos pela sua presença destacada no mercado. Como o foco não é mergulhar profundamente em análises complexas, vamos explorar como estes ativos interagem em conjunto. Ao fazer isso, buscamos não apenas uma visão geral, mas também uma maneira tangível de compreender em que estamos a investir o nosso capital.
Neste contexto, a diversificação é a peça-chave do que estamos prestes a fazer. Não se trata apenas de possuir vários ativos, mas sim de compreender como esses ativos se relacionam entre si, trabalhando em conjunto para reduzir o risco e aumentar os retornos. Escolher ativos populares permite-nos criar um portfólio que não requer um conhecimento técnico aprofundado, mas que ainda assim procura os benefícios da diversificação. Desta forma, mesmo com recursos limitados, poderemos compreender o que estamos a construir e, mais importante ainda, tomar decisões informadas sobre os nossos próprios investimentos.

Constituição do Portfólio Global

Constituição do Portfólio Global

Índices de Ações (40%)

A alocação para índices de ações será distribuída entre S&P 500(20%), NASDAQ Composite (15%) e MSCI World Index (5%). Esta combinação oferece uma exposição a grandes empresas dos EUA, setor de tecnologia e ações de todo o mundo. O índice S&P 500 é mais previsível em termos de retorno anualizado, devido ao seu histórico. Já o Nasdaq oferece uma exposição maior ao setor que vem apresentando os maiores retornos nos últimos anos, o que pode ser benéfico para o nosso portfólio. Por sua vez, o MSCI World proporciona uma diversificação global.

Índices REITs (30%)

A alocação em REITs é importante para termos exposição ao mercado imobiliário, e vai ser distribuída por dois índices. Vanguard Real Estate ETF (15%) e iShares Global REIT ETF (15%). O ETF Vanguard Real Estate investe em empresas que possuem e operam propriedades imobiliárias físicas nos Estados Unidos, enquanto o ETF iShares Global REIT oferece uma exposição mais abrangente ao mercado imobiliário global, investindo em REITs de vários países e regiões do mundo. Ambos os ETFs permitem aos investidores aceder a uma ampla variedade de propriedades e setores imobiliários em diferentes mercados internacionais.

Criptomoedas (5%)

Os ativos de criptomoedas são conhecidos pela sua alta volatilidade e são considerados de alto risco. No entanto, decidimos alocar apenas 5% do nosso portfólio para estes ativos, a fim de adicionar um toque de inovação à nossa estratégia de investimento. Vamos concentrar os nossos investimentos nos dois maiores ativos desta categoria, o Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH), com uma alocação de 3.5% e 1.5%, respetivamente. Acreditamos que esta abordagem nos permitirá aproveitar o potencial de crescimento destas moedas digitais nos próximos anos.

Títulos do Tesouro dos EUA (2.5%)

Investir em títulos do Tesouro dos EUA fornece uma base de estabilidade para o nosso portfólio. A alocação de 2.5% é dividida entre o iShares 7-10 Year Treasury Bond ETF (IEF) e o Bloomberg Barclays Global Treasury Index. O IEF, com sua maturidade de 7 a 10 anos, busca um equilíbrio entre rendimento e sensibilidade às taxas de juros. Enquanto isso, o Bloomberg Barclays Global Treasury Index oferece exposição a uma variedade de títulos do tesouro governamentais em todo o mundo, adicionando diversificação e segurança à nossa carteira.

Títulos Corporativos (2.5%)

A alocação de 2.5% em títulos corporativos melhora a nossa procura por rendimento e estabilidade. Dividida igualmente entre o iShares Global Corporate Bond ETF (CORP) e o iShares iBoxx Investment Grade Corporate Bond ETF (LQD), esta alocação liga-nos a empresas de qualidade de crédito. O CORP expõe-nos a uma vasta gama de títulos corporativos globais, enquanto o LQD concentra-se em títulos de empresas dos EUA. Estes títulos oferecem retornos previsíveis e complementam consistentemente a nossa carteira.

Caixa (20%)

Manter uma alocação robusta em caixa é uma abordagem estratégica e proativa. Com uma reserva de 20% em dinheiro, garantimos a flexibilidade necessária para capitalizar em oportunidades de investimento emergentes e para nos adaptarmos a flutuações do mercado e variações da própria carteira. Enquanto outros ativos da carteira estão sujeitos a volatilidade, a alocação em dinheiro age como um pilar de estabilidade e segurança. É importante notar que, embora tenhamos estabelecido uma alocação de 20% para liquidez, este valor pode ser efetivamente maior. Isto deve-se à inclusão de 5% em títulos do tesouro e corporativos, que, devido à sua natureza de baixo risco e maior liquidez, podem ser considerados como uma extensão da nossa reserva em dinheiro. Esta combinação eleva a nossa “almofada de segurança” para cerca de 25% do portfólio, reforçando a nossa capacidade de manobra em cenários de mercado variáveis.

Análise Detalhada do Desempenho da Nossa Carteira Diversificada (2018-2023)

O desempenho da nossa carteira diversificada desde o início de 2018 até agosto de 2023 foi notável, com um retorno total de aproximadamente 50%. Isso se traduz numa média anual impressionante de quase 10%. Vamos desagregar esses números para entender melhor como cada classe de ativos contribuiu para esse sucesso.

Ações: O Pilar do Crescimento

As ações, representadas pelos índices S&P 500, NASDAQ e MSCI World, foram a espinha dorsal da nossa estratégia de investimento. Com retornos de 70.22%, 104.74% e 64.87%, respetivamente, esses índices não só adicionaram estabilidade à carteira com toda a sua diversificação, mas também contribuíram significativamente para o crescimento do capital. A alocação desses ativos foi feita com base na sua volatilidade relativamente baixa e no potencial de retorno a longo prazo.

Mercado Imobiliário: Estabilidade com Retorno Moderado

Os REITs, especificamente Vanguard Real Estate e Global REIT, apresentaram um desempenho mais modesto como espectável, com retornos de 26.93% e 12.43%, respetivamente. A sua inclusão na carteira visava adicionar uma camada de estabilidade e diversificação, apesar de retornos mais contidos.

Criptomoedas: O Toque de Ousadia

As criptomoedas, nomeadamente Bitcoin e Ethereum, foram as estrelas inesperadas da carteira. Apesar da sua alta volatilidade, elas geraram retornos excecionais de 114.02% e 140.23%. A sua alocação foi feita de forma cautelosa, para equilibrar o risco e o retorno.

Títulos: A Base Sólida

Os títulos, frequentemente vistos como o porto seguro dos investimentos, tiveram retornos que variaram entre 0.04% e 7.3%. A sua presença na carteira foi estratégica, visando mitigar os riscos associados a outros ativos mais voláteis.

Volatilidade do portfólio

A volatilidade da nossa carteira diversificada foi de aproximadamente 0,83% por dia, um número que reflete uma gestão cuidadosa da alocação de ativos. Para entender melhor este valor, é útil explicar os componentes do risco associados à nossa carteira: o risco diversificável e o risco não diversificável.

Risco Diversificável: O risco relacionado a fatores individuais de cada ativo na carteira é conhecido como risco diversificável. Para reduzir esse risco, é possível optar pela diversificação da carteira, incluindo ativos variados. No nosso caso, o risco diversificável foi de cerca de 0,00518%.

Risco Não Diversificável: Este é o risco associado a fatores de mercado que afetam todos os ativos e, portanto, não pode ser eliminado através da diversificação. O nosso risco não diversificável foi de cerca de 0,00175%.

O baixo nível destes riscos demonstra o poder da diversificação. Ao alocar ativos mais voláteis, como criptomoedas, com pesos menores e ativos menos voláteis com pesos maiores, conseguimos manter a volatilidade da carteira em níveis gerenciáveis. Este é um indicador positivo, pois sugere que a carteira está bem equilibrada e menos suscetível a flutuações extremas de mercado. Em resumo, a estratégia de alocação de ativos resultou numa carteira com risco bem controlado, o que é uma excelente notícia para qualquer investidor, seja ele novato ou experiente.

Conclusão: A Arte da Diversificação ao Alcance de Todos

Muitas vezes, a ideia de investir no mercado financeiro pode parecer intimidante, especialmente para aqueles que não têm um background em finanças ou economia. A boa notícia é que não é necessário ser um expert mundial em investimentos para construir uma carteira diversificada e rentável.
A nossa experiência demonstra que, com uma abordagem cuidadosa e estratégica, é possível alcançar um retorno total de cerca de 50% e uma média anual de aproximadamente 10%. E isso foi conseguido através da diversificação inteligente, considerando a volatilidade e o potencial de retorno de cada ativo.
Não é preciso ser um expert das finanças para entender que diferentes ativos têm diferentes níveis de risco e retorno. O que realmente importa é a forma como esses ativos são combinados para criar uma carteira equilibrada. Esta carteira é a prova viva de que a diversificação eficaz pode mitigar riscos e maximizar retornos, tornando o mundo dos investimentos acessível a todos, independentemente do seu nível de expertise.
É importante salientar que a carteira aqui apresentada e analisada não constitui uma recomendação de investimento. Cada investidor tem objetivos, tolerância ao risco e situação financeira únicos, que devem ser considerados na escolha de uma estratégia de investimento. Esta análise serve apenas como um exemplo ilustrativo do impacto da diversificação e da alocação de ativos no desempenho de uma carteira

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