O que está a inflação a causar nos mercados?

A ideia de que a inflação será apenas transitória já vem sendo ultrapassada por uma visão mais pessimista da sua persistência futura. Os baixos e estagnados rendimentos nominais das obrigações do tesouro, combinados com a chegada dos níveis de inflação mais altos das últimas três décadas e a relutância dos maiores bancos centrais em aumentar as taxas de juro trazem as reais yields para baixo e levam os investidores para outros cantos mais arriscados do mercado. 

Na semana passada, as taxas de rendibilidade reais de obrigações indexadas à inflação do tesouro americano caíram para –1,2%, o valor mais baixo desde fevereiro de 2003. É importante notar que, no essencial, com rendimentos reais negativos, o poder de compra do dinheiro investido irá diminuir ao longo da vida útil desses títulos.  

“Quanto mais baixos os rendimentos reais, mais é encorajada a especulação”, disse Lorenzo Di Mattia, diretor de investimentos do fundo de cobertura Sibilla Capital. Segundo ele, à medida que o dinheiro perde valor devido à inflação, os investidores ficam cada vez mais motivados a pôr o seu dinheiro a trabalhar. 

De facto, o entusiasmo dos investidores tem sido redirecionado para cantos mais arriscados do mercado, como criptomoedas, empresas de menor capitalização e tecnológicas. Para além do mais, os contratos mais transacionados de futuros de ouro acabam de atingir a sua melhor semana em seis meses, elevando o seu já reconhecido estatuto de refúgio à inflação. 

As ações tecnológicas sofreram um forte impulso. O índice NASDAQ (^IXIC), onde estão as cotadas tecnológicas dos Estados Unidos, subiu cerca de 10% no último mês, duplicando aproximadamente a subida do índice industrial Dow Jones (^DJI), onde estão as grandes empresas industriais americanas.  

Shaniel Ramjee, gestor de fundos da Pictet Asset Management, tem procurado ações com maior potencial de crescimento, como empresas de tecnologia verde, assumindo, ainda, mais risco ao adicionar ações de empresas de menor capitalização.  

Este segundo grupo subiu nos últimos dias, à medida que os investidores apostavam nas empresas que esperavam poder responder rapidamente ao aumento da inflação. De facto, as empresas mais pequenas podem ser mais ágeis na promulgação de mudanças, incluindo aumentos de preços que as ajudem a gerir as pressões inflacionistas, disse Steve Lipper, estratega de investimento sénior da Royce Investment Partners

Assim sendo, o índice Russell 2000 (^RUT) de ações de menor dimensão avançou 5% em novembro, ultrapassando o ganho de 1,7% do índice de referência S&P 500 (^GSPC) de grande capitalização. A 2 de novembro, o Russell 2000 terminou uma seca de sete meses com um recorde de encerramento e, desde então, acrescentou mais três. 

As criptomoedas têm, também, aumentado. A Bitcoin (BTC-USD) bateu um recorde na semana passada, ao negociar a $68.525, de acordo com a CoinDesk. Todavia, no caso das criptomoedas, o seu desempenho num ambiente de inflação persistente é mais incerto. Existe a ideia de que estes ativos podem ser utlizados como um instrumento de proteção contra a inflação. Na prática, a experiência diz-nos para sermos mais prudentes. No início do ano, a Bitcoin foi fortemente vendida mediante maiores expetativas de uma subida generalizada dos preços. O que não é prestigiante para o seu caso. 

Joel Kruger, estratega monetário do Grupo LMAX, explica: “O ambiente de menor rendimento e risco tem sido favorável para as criptomoedas”. O que revela uma opinião no sentido oposto à instrumentalização deste ativo contra a inflação. Ainda acrescenta que, se a Federal Reserve se vir obrigada a subir as taxas de juro, cortando crédito à economia, o impacto nesta classe de ativos pode ser prejudicial.  

Por fim, os futuros de ouro mais transacionados (GC=F) atingiram, na semana passada, a sua melhor semana em seis meses, aumentando 2,9% para $1.868,50 a onça, depois de os dados mostrarem uma persistente escassez da oferta e uma forte procura por parte dos consumidores. A queda do rendimento ajustado pela inflação das obrigações tem apoiado os preços do ouro. Como este metal não oferece um rendimento fixo simplesmente por o deter, torna-se mais atrativo quando os rendimentos das obrigações do governo a longo prazo recuam.  

Autor: Diogo Chaves  

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