O sistema de monitorização de conteúdo, conhecido por XCheck, é responsável por conceder tratamento especial a milhões de utilizadores das redes sociais Facebook, Instagram e Whatsapp, criando uma elite secreta composta por celebridades, figuras políticas e outros indivíduos de alto perfil.
Mark Zuckerberg, cofundador e CEO da multinacional de tecnologia, manifestou publicamente que a Facebook Inc. ($FB) concede aos seus mais de 3 mil milhões de utilizadores a oportunidade de se expressarem em pé de igualdade, submetendo-se a regras de conteúdo universais que se aplicam independentemente do estatuto e da fama do usuário.
No entanto, um relatório publicado no mês de setembro pelo Wall Street Journal, com documentos concedidos por um whistleblower, mais tarde revelado ser Frances Haugen, uma antiga funcionária da empresa, evidenciou que, na realidade, publicações de certos “usuários privilegiados” são avaliadas de forma diferente, através de uma prática designada por “whitelisting”.
Como é que o sistema do Facebook funciona?
O sistema XCheck foi criado pelo Facebook para minimizar “PR fires” ou seja, a reação negativa que surge nos media quando decisões controversas de monitorização são tomadas contra figuras públicas de grande influência. Deste modo, se o sistema concluir que um utilizador VIP infringiu os termos e condições da rede social, a mesma não remove o conteúdo de forma imediata, e encaminha a reclamação para um sistema separado, com funcionários a tempo inteiro e bem treinados, que efetuam camadas adicionais de revisão.
Este sistema é criticado porque os utilizadores que estão fora do mesmo não têm direito a revisões tão minuciosas e muitas vezes veem o seu conteúdo a ser bloqueado ou sinalizado de forma questionável e injustificada, como é o caso do jornalista independente Hossam El Sokkari que ficou impedido de transmitir um vídeo ao vivo previamente agendado, após revisores humanos terem concordado erroneamente com a decisão automática de bloquear a sua conta.
Enquanto isso, conteúdo VIP, que infringe os termos e condições, permanece visível para milhares e por vezes milhões de seguidores, com publicações com desinformação, racismo, incitação à violência e revenge porn a ficarem ativas durante horas antes de serem eliminadas.
O porta-voz do Facebook, Andy Stone, admitiu que as críticas ao XCheck são justas, mas acrescentou que o sistema “foi criado com uma razão importante: formar uma etapa adicional para que possamos aplicar com precisão as políticas de conteúdo que podem exigir mais compreensão”.
Acredita-se, porém que, ao descrever este sistema, o Facebook induziu em erro o público e o seu próprio Conselho de Supervisão (Oversight Board), um órgão independente, conhecido como sendo o “Supremo Tribunal” do Facebook, que o criou para garantir a responsabilização dos sistemas de fiscalização da empresa.
No mês passado, o conselho pediu ao Facebook que esclarecesse as regras exclusivas que aplica a VIPs, tendo em conta que essa seria informação crucial para a decisão de banir Donald Trump da rede social. Originalmente, o Facebook informou que o programa XCheck se aplicava apenas a um “pequeno número de decisões”, mas depois admitiu que a declaração era enganosa. O conselho também afirmou que o Facebook “não ofereceu nenhuma transparência significativa” sobre a forma como determina que contas devem ser incluídas no XCheck.
O Facebook está a enfrentar uma grande queda em Washington devido à divulgação dos documentos confidenciais por parte de Frances Haugen. No início deste ano, a multinacional prometeu “implementar totalmente” as recomendações do Oversight Board e explicar a razão, os padrões e o processo de revisão do seu programa VIP. No entanto, de acordo com o novo relatório, o Facebook não está a seguir o seu próprio plano. Para além disso, tem sido constantemente acusado de colocar o lucro à frente da segurança e do bem-estar dos seus utilizadores.
Autora: Leonor Ramos
