O abrandamento do setor imobiliário chinês e as fortes consequências que se avizinham

O mercado imobiliário é provavelmente o maior propulsionador da economia chinesa, sendo este um grande responsável pelo crescimento astronómico do PIB chinês nas últimas décadas.

Numa pesquisa feita por Kenneth Rogoff e Yuanchen Yang, estes estimam que o papel do mercado imobiliário (construção e serviços relacionados) rondava os 30% do PIB chinês em 2017. Quando comparado com o de outros países desenvolvidos, esta proporção exibe diferenças significativas de 10 pontos percentuais ou mais. Na mesma pesquisa, o Reino Unido, França e Espanha rondam a marca dos 20% e os Estados Unidos os 17%.

O boom chinês na construção já dura há 30 anos, sendo que na mais recente década e meia os preços têm aumentado 10% ao ano com os chineses citadinos a comandar a procura.

Nesse período as construtoras foram se endividando e acumularam dívida que totaliza os 2,8 biliões (1012) de dólares, ou nada mais nada menos do que 18% do PIB chinês de 2020.

Evidências recentes questionam se esta alocação tremenda de capital tenha sido o ideal. 87% das novas casas são adquiridas por indivíduos que já possuem habitação com a agravante de que a China já tem uma das maiores taxas de desocupação habitacional do mundo, situada nos 20%.

Isto sugere que pode existir uma sobreoferta no mercado e talvez até que estamos perante um mercado especulativo em vez de um que crie riqueza.

Com as histórias de cidades fantasma e as recentes demolições, fica o sentimento de que o investimento recente não gerou a riqueza real, melhoria de qualidade de vida para a população chinesa, proporcional esperada.

Esta alavancagem do setor vai contra um dos objetivos oficiais do governo chinês de limitar o endividamento empresarial. Numa tentativa de a diminuir, nos últimos anos este impôs certas restrições no acesso ao crédito ao setor.

Como consequência, várias empresas entraram em insolvência e caíram. Recentemente, a mais mediática tem sido a Evergrande ($3333.HK), com um passivo acima dos 300 mil milhões de dólares (130% do que se prevê que Portugal inteiro tenha produzido em 2020) e uma situação financeira precária. Esta tem falhado sucessivos pagamentos obrigacionistas, sendo que já vai na terceira ronda de pagamentos falhados em apenas três semanas, arrecadando 150 milhões de dólares em incumprimento. A empresa tem mantido o silêncio total sobre a situação.

Espera-se que entre o dia 18 e 19 deste mês faça default no empréstimo.

A par deste credit crunch imposto pelo governo a atividade também parece estar a abrandar.

Observa-se uma aparente descida da procura, com os preços a abrandarem nos últimos meses e com o número de transações imobiliárias em Shenzhen a cair por 4 meses seguidos.

Outro fator pouco animador é a opinião da Moody’s, que alterou o seu outlook do sector de construção chinês para negativo.

Para obterem a liquidez que tanto precisam, alguns construtores estão a fazer cortes extremamente agressivos (por vezes de 30%) no preço das casas, no entanto, certos governos locais proibiram a prática, estabelecendo um máximo de 15% na redução de preços. A quebra do setor afeta diretamente estas entidades locais que têm como a venda de terras às construtoras a maior fatia dos seus rendimentos.

Rogoff e Yang estimam que uma quebra de 20% no setor pode levar a uma quebra de 5 a 10% no agregado da economia chinesa.

O não aliviar da dependência do crescimento económico em relação ao setor da construção pode ser um dos maiores falhanços económicos recentes por parte da China.

O relacionamento entre o mercado imobiliário e o crescimento agregado continua mais forte do que nunca.

Um sismo no setor mais importante da segunda economia mais poderosa do mundo está destinado a fazer-se sentir em toda a economia global. Tal possibilidade é motivo para estarmos atentos.

Autor: Adelino Meireles

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