O Papel das Agências de Classificação de Risco nos Mercados Financeiros

Não é de agora que as avaliações de risco de crédito são uma peça fundamental para investidores, instituições financeiras e governos que procuram tomar decisões acerca de investimentos e estratégias económicas. Nesse cenário, as agências de classificação de risco despenham um papel de destaque, fornecendo avaliações e notas de crédito para uma ampla gama de emissores. Neste artigo, iremos abordar a fundo a estrutura destas agências, o seu papel na conjuntura económica e o histórico de avaliações a Portugal.

O que são as agências de rating

Agências de classificação de risco são empresas independentes especializadas na elaboração de índices de avaliação de investimento, abrangendo desde países até empresas e produtos financeiros. Essas avaliações, conhecidas como notações de risco de crédito, desempenham um papel crucial ao fornecer informações aos investidores sobre o risco de incumprimento associado a um investimento. Quando uma entidade emite títulos de dívida, assume a responsabilidade de cumprir com o pagamento de juros na data de vencimento. A notação atribuída a essa entidade avalia, portanto, o risco de inadimplência, fornecendo uma visão abrangente da probabilidade de não serem cumpridas as obrigações financeiras.

As Big Three

Este tipo de atividade surgiu nos Estados Unidos, dada a necessidade das empresas em obter informação acerca da solvabilidade dos seus clientes. As primeiras agências de classificação de risco foram a Standard & Poor´s (S&P), Moody´s e a Fitch Ratings. As três agências são sedeadas nos Estados Unidos, sendo que a Fitch tem também uma matriz em Londres. Estima-se que componham cerca de 95% do mercado de análise de risco do mundo, concentrando em si um poder de influência significativo na economia mundial. 

Processo de rating

As agências de rating funcionam como medidoras de risco e são usadas pelo mercado financeiro para instruir os investidores sobre a capacidade dos avaliados em honrar os seus compromissos financeiros. A pedido dos próprios governos e empresas, estas agências avaliam a capacidade de pagarem as suas dívidas e gerarem retorno para os investidores.

Tal avaliação é conseguida através da análise à habilidade e experiência dos executivos das empresas ou líderes políticos, a capacidade de gerar receita, o grau de endividamento e a qualidade dos ativos negociados. Para além dos desafios internos de gestão e produtividade das organizações, o cenário macroeconómico e social em que se inserem, também, é tido em consideração. 

A atribuição das notas é dada na escala alfabética A, B, C, D; sendo que cada categoria tem várias subdivisões. A avaliação Triple A (apresentada na escala por AAA ou Aaa) é a melhor classificação possível, atribuída a governos e empresas que apresentam o menor risco de calote. Por outro lado, a letra D (default), ou C na tabela da Moody´s, representa organizações que não conseguem cumprir com as suas obrigações de pagamento de juros.

Na tabela de notas de risco é feita a divisão entre o grau especulativo e o grau de investimento. Os ativos com maior risco de inadimplência inserem-se no grau especulativo e, naturalmente, oferecem um maior potencial de retorno, dado o risco associado. Já os títulos com menor possibilidade de calote enquadram-se no grau de investimento, pelo que deverão renumerar menos o investidor.

Excessiva dependência das Big Three 

A notável dependência dos mercados financeiros em relação às avaliações das Big Three contribuiu para a perceção de que a crise de 2008, em parte, teve suas raízes nos equívocos dessas agências. Com uma presença dominante que se estende a cerca de 95% do mercado de avaliação de risco, a concorrência é praticamente inexistente.

Esse oligopólio desempenhou um papel crucial na criação de um cenário permeado por “ativos tóxicos”, frequentemente associados a títulos garantidos por hipotecas subprime (empréstimos imobiliários de alto risco). A classificação AAA atribuída a ativos desse tipo em 2008 funcionou como um selo de aprovação para a sua comercialização, o que resultou na confiança cega de diversos investidores nesses produtos. 

Uma crítica adicional que evidencia a elevada influência das agências de classificação nos mercados financeiros foi a concessão de altas notações a bancos e empresas pouco antes das suas falências.

Poucos dias antes da queda do banco de investimento americano Lehman Brothers em 2008, tanto a S&P quanto a Moody’s ainda o classificavam como grau de investimento. No contexto dos bancos islandeses, as agências também não conseguiram antecipar as suas falências, ao atribuir a notação AAA para os mesmos no próprio ano. 

Ratings da República Portuguesa

No que concerne à classificação da dívida soberana de Portugal, tem havido uma tendência crescentemente positiva desde 2013. A avaliação de rating mais recente foi conduzida pela agência canadense DBRS (a quarta maior do setor), que elevou o rating de Portugal de A- para A, com uma perspetiva futura “estável”.

Nas avaliações deste ano, tanto a Fitch quanto a S&P mantiveram a classificação atribuída no final de 2022, BBB+, enquanto a Moody’s manteve a notação Baa2, atualizada em setembro de 2021, com perspetiva “positiva”.

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Conclusão

As agências de classificação de risco desempenham um papel crucial nos mercados financeiros, fornecendo avaliações fundamentais para investidores, instituições financeiras e governos nas suas tomadas de decisão.

A sua influência é evidente na notável dependência dos mercados em relação às avaliações das “Big Three“, que, embora desempenhem um papel importante na avaliação do risco, também enfrentam críticas pela excessiva concentração de poder, potenciais conflitos de interesse e pela falha em antecipar eventos críticos, como evidenciado pela crise de 2008.

A história das agências de rating e o seu impacto na economia mundial destacam a necessidade contínua em adotar uma abordagem equilibrada e vigilante em relação à avaliação de riscos. O ambiente financeiro em constante evolução exige que os investidores considerem múltiplas fontes de informação e interpretem as avaliações de risco de forma cuidadosa, em vez de dependerem exclusivamente das notações das agências e de opiniões externas.

 

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