Escalada do preço da eletricidade continua, porquê?

O preço da eletricidade no mercado grossista ibérico MIBEL bateu um novo recorde na negociação, ao atingir os 216,01€/MWh. Este preço foi já o 9º recorde de preços de energia em Portugal só no mês de setembro, numa escalada que vem já desde o início do ano: 

Portugal não está sozinho no que toca à subida substancial dos preços da eletricidade, com os restantes mercados europeus de energia a registarem também recordes de preço. Segundo o EPEXspot, a maior bolsa dos mercados energéticos da Europa, para o dia de amanhã no Reino Unido os preços atingem as 163£/MWh, em França 141€/MWh e Itália apresenta uns extraordinários 205€/MWh.

Como em qualquer mercado, o preço é ditado pela procura e pela oferta, e para explicar o que está a acontecer há várias razões que afetam positivamente a procura e negativamente a oferta, pressionando positivamente o preço. Desde geopolítica, a recuperação económica pós-covid e passando até pela própria meteorologia, o preço está a ser inflacionado por um conjunto alargado de razões. Vamos por partes.

Tudo começou com um inverno rigoroso em início de 2021, o que fez aumentar o consumo de energia e consequentemente a utilização de gás natural para produzi-la. Este consumo de gás natural levou as reservas europeias a níveis historicamente baixos, de acordo com a Reuters.

Com os processos de vacinação na Europa e Ásia a avançar rapidamente, a consequente recuperação económica leva necessariamente a consumos de energia mais altos, enquanto indústrias recomeçam a trabalhar e os restaurantes e centros comerciais reabrem. Assim, a Europa ficou com um forte competidor no acesso ao gás natural que a Rússia oferece. Esta pressão pelo lado da procura naturalmente leva os preços a aumentar.

Sobre a Rússia, há possivelmente uma explicação geopolítica para a falta de oferta de gás que seria tão preciosa para os europeus: um novo gasoduto que começa na costa russa no golfo da Finlândia e vai diretamente para o norte da Alemanha, contornando assim a Ucrânia. Os críticos da construção deste novo gasoduto, como vários eurodeputados e o próprio congresso americano alegam que seria um risco ficar ainda mais dependente das decisões de Moscovo para o fornecimento de gás e que o país conseguiria desta forma evitar pagar à Ucrânia os devidos honorários pelo trânsito de gás natural que passa pelo seu território. A Rússia sabendo da existência destas pressões políticas, poderá estar a “manipular os preços de gás através do seu armazenamento interno ou a falhar em produzir quantidades adequadas” segundo a Secretária de Energia dos Estados Unidos, Jennifer Granholm.

Toda esta pressão de elevada procura induzida pela recuperação económica pós pandemia, aliada à baixa oferta do maior exportador de gás natural para a União Europeia, a Rússia, leva a um aumento dos preços de gás que se traduz no preço da eletricidade. De facto, de acordo com a Reuters, os preços de referência do gás europeu no hub holandês TTF (Title Transfer Facility) aumentaram mais de 250% desde janeiro deste ano.

Com o inverno a aproximar-se e o consequente aumento esperado do consumo de energia para aquecer as casas, Domenico De Luca, Head of Trading & Sales da Axpo prevê que “se houver mais cortes no abastecimento, os preços do gás subirão ainda mais”.

Será também previsível a existência de intervenções dos governos europeus para tentar conter os custos para os consumidores. Em França, o Governo anunciou que vai enviar vouchers de 100€ a mais de 5 milhões de habitantes para minimizar os impactos dos altos custos de energia. Já a União Europeia está a preparar um conjunto de medidas que os países podem utilizar como contenção dos custos, como por exemplo a redução do IVA da eletricidade.

Autor: Francisco Castro Silva

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