O que aprendemos com o mercado depois de um ano de pandemia?

O passado ano, ainda que difícil, revelou-se surpreendentemente positivo para vários investidores

 Cerca de um ano depois do início da pandemia que gerou uma crise económica, social e de saúde global, chegamos, então, a uma boa altura para entender que lições nos trouxe este primeiro capítulo da história da Covid-19 na ótica dos mercados financeiros.

 Como se relacionam o mercado e a economia?

 A distinção entre mercado e economia é, já há muito tempo, conhecida pelos investidores. Para eles, é evidente que há acontecimentos na economia que impactam diretamente os mercados, tal como há acontecimentos nos mercados que impactam a economia. Contudo, durante o último ano, esta distinção tornou-se mais conhecida por muitos, especialmente por aqueles que, com o avançar do tempo, foram desenvolvendo curiosidade e interesse em mercados financeiros. Mas, afinal, qual é a diferença entre estes dois termos?

 O termo mercado financeiro é bastante amplo, sendo usado para se referir a qualquer mercado onde se troquem títulos (securities), nos quais se incluem as ações, as obrigações, os derivativos, entre outros. Por outro lado, a economia refere-se a um vasto conjunto de atividades de produção, consumo e troca, utilizadas para obter bens e serviços indispensáveis à vida humana.

Os mercados, com grande frequência, tentam prever o futuro da economia, previsões essas que muitas vezes se revelam inúteis quando surgem surpresas que afastam a realidade das mesmas, tal como foi a Covid-19.

Quando em março de 2020, a pandemia forçou países a entrar em confinamento, o mercado experienciou quedas significativas, que atingiram praticamente todas as indústrias. No entanto, quase um ano depois, a economia continua numa situação frágil dada a permanência do vírus nas nossas vidas, enquanto o mercado cresceu quase como se o mesmo tivesse desaparecido.

 A Pandemia é um Acelerador

 Embora seja evidente os efeitos negativos da pandemia em indústrias como a do turismo, esta foi um acelerador na medida em que forçou as empresas a sentir a necessidade de automatização e de investimento em infraestruturas virtuais que permitam oferecer mais serviços dirigidos ao cliente e ao trabalhador de forma digital.

 A influência do medo e da esperança no mercado

Avaliando os efeitos da pandemia em ações específicas, em vez de no mercado inteiro, é-nos possível perceber o papel que o medo e a esperança desempenham. Há um ano atrás, o conhecimento que tínhamos sobre o vírus era reduzido, mas ainda menor era o que tínhamos sobre o futuro. O medo e a incerteza eram tão grandes que se revelaram na enorme venda de títulos, nomeadamente índices como o S&P500, NASDAQ Composite e Dow Jones Industrial Average, originando quedas na ordem dos dois dígitos. Por outras palavras, parte das ações mais vendidas do mercado estiveram, na maior parte do tempo, a ser transacionadas a preços significativamente mais baixos em prol da minimização de perdas. Mesmo assim, várias empresas viram as suas ações serem valorizadas, no mesmo período, como foi o caso da Netflix, Inc. e a Zoom Video Communications, Inc.

Hoje, ainda que não saibamos responder a todas as perguntas que tínhamos em março do ano passado, a incerteza é menor graças ao desenvolvimento e aparecimento de algumas vacinas. O restabelecimento da esperança tem vindo, nos últimos meses, a traduzir-se na recuperação da cotação de várias empresas, como a Apple Inc., que em fevereiro de 2020 sofreu uma queda de mais de 20%, e, cerca de um ano depois, verificou uma subida superior a 120%.

 Os investidores individuais apareceram em força

 Apesar de os centros comerciais se encontrarem vazios, o mercado é cada vez mais frequentado por investidores individuais. O facto de haver um maior número de apps de trading, bem como um aumento inesperado de tempo livre, são fatores de grande influência no aumento do número de pessoas ativamente envolvidas no mercado de ações.

No longo-prazo, o facto de haver mais investidores individuais a gerir o seu próprio portfólio, é um fator bastante positivo, pois, representa uma mudança de paradigma no que toca às finanças pessoais.

 Que conclusões tiramos?

 A verdade é que a pandemia tem afetado bastante o mercado: prejudicou alguns setores, enquanto ajudou outros; impulsionou, à sua maneira, o número de investidores individuais; relembrou a todos (especialmente aos investidores mais experientes) que o mercado reflete mais o medo e a esperança do que a evolução da economia em si.

Ainda, uma das maiores lições que ensinou, foi o facto de o timing do mercado ser, como sempre foi, quase impossível de dominar por completo. Se alguém pretende adquirir instrumentos, provavelmente estará melhor ao confiar mais no mercado do que ao mudar constantemente de posição com base em previsões de terceiros. Alguém que tenha mantido as suas ações durante março do ano passado até hoje, talvez até tenha visto o seu portfólio crescer. É certo que as lições retiradas não compensam todas as restrições e perdas a que se assistiu, mas a verdade é que se aprende bastante em tempos difíceis.

Autor: Tomás Graça

DEIXA UM COMENTÁRIO

Por favor, envie o comentário!
Por favor, escreva o seu nome aqui

spot_imgspot_img

Últimas notícias

Receba o ebook "Os primeiros investimentos" GRATUITAMENTE

Basta carregar no botão abaixo

Artigos Relacionados

spot_imgspot_img