Inflação histórica em Espanha: causas e consequências

O Instituto Nacional de Estatística espanhol divulgou esta semana dados provisórios para a inflação ao consumidor no mês de março, com um IPC de 9,8%, o valor mais elevado desde a entrada do país vizinho na União Europeia, em 1986. Já em fevereiro este indicador atingiu 7,6%, incomum na realidade espanhola.

As principais razões são os aumentos nos preços da energia, de alguns alimentos e das bebidas não alcoólicas, ainda que seja importante referir que todos os componentes que medem a inflação aumentaram. A inflação anual subjacente em Espanha, ou seja, descontando o efeito dos produtos alimentares e produtos energéticos, registou 3,4%, o valor mais alto desde setembro de 2008.

Fontes do governo espanhol, incluindo o Presidente Pedro Sánchez, afirmam que este aumento em muito se deve à Guerra na Ucrânia e o seu efeito sobre o preço dos produtos energéticos, como os combustíveis e o gás natural. Também, o facto de a Ucrânia ser o celeiro da Europa leva ao aumento de vários produtos alimentares como o óleo e/ou os cereais. Ainda, diversas matérias primas como o níquel ou o alumínio contribuem para um maior custo de produtos manufaturados. 

Assim, as principais consequências iniciam-se pela elevada perda de poder de compra que sofrerá a população residente em Espanha, previsões apontam para uma perda de 16.700 milhões de euros. Também o investimento será afetado, com este nível de inflação e a prevista subida das taxas de juro, os investidores terão menos incentivos a investir em Espanha. Ao nível do consumo, os economistas espanhóis preveem um menor aumento do consumo pois previam um crescimento de 4,9% e agora apontam para 3,8%. Justifica-se pela incerteza da atual conjuntura internacional, derivado do desconhecimento da implementação de futuras sanções à Rússia e/ou da duração que terá esta guerra.

Para atenuar os efeitos da elevada inflação, o governo espanhol apresentou um plano para baixar em 1 p.p. a subida do IPC. Então, propôs a fixação de um preço máximo para o gás natural utilizado para produzir energia, apoios de 20 cêntimos por litro nos preços dos combustíveis e uma redução fiscal para famílias e empresas. Num plano que se prevê alcançar os 16.000 milhões de euros (6.000 milhões em ajudas diretas e redução de impostos e 10.000 milhões em crédito para as empresas e para as famílias espanholas).

Com as previsões de crescimento económico de 1,1% para 2022 (com as piores a apontarem para recessões de 0.5% a 2%) e de inflação média anual a rondar os 5,5%, teme-se que o país entre num período de estagflação. O fenómeno caracteriza-se por uma combinação de baixos crescimentos económicos com período de inflação elevada, algo apenas visto na Europa na década de 70, altura dos choques petrolíferos de 1973 e 1979.  

Autor: Mário Costa

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