Estarão as metas da transição energética comprometidas na China?

As últimas semanas têm sido marcadas pelo advento de uma crise energética que tem causado um forte impacto global. Neste sentido, a China não é exceção, pelo que no seguimento dos diversos problemas de cariz energético no país, o governo de Xi Jinping decidiu avançar com um aumento de cerca de 6% da produção de carvão ainda este ano, o que representa uma grande ameaça às metas da transição energética do governo chinês.

A crise energética na China provocou, recentemente, diversos apagões em algumas províncias do país, o que tem causado o abrandamento e, em casos mais extremos, a paragem de várias fábricas de indústrias fulcrais, como a indústria alimentar. Perante isto, o governo decidiu aumentar a produção de carvão para fazer face ao aumento da procura por eletricidade.

Este combustível fóssil, uma das fontes de energia mais poluentes, contribui para cerca de 60% da produção de eletricidade no país.

No decorrer deste aumento de produção, o país atingiu recentemente, segundo a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o seu recorde de produção diária 11,5 milhões de toneladas, sendo que a tendência será esse valor aumentar, uma vez que o governo chinês tem como objetivo para este ano aumentar a produção em 3,84 mil milhões de toneladas face ao ano transato.

Uma das consequências da crise energética no país é, obviamente, o abrandamento da economia. Dados dos bancos Barclays e Citigroup, apontam que esta situação poderá representar um decréscimo no crescimento do PIB chinês, o que explica a urgência na corrida ao carvão.

Impactos nas metas da transição energética

O aumento da produção de carvão e a abertura de mais centrais alimentadas deste combustível fóssil  surgem em contracorrente no que às metas ambientais concerne.

A respeito dessas metas, o governo de Xi Jinping havia estabelecido como objetivo reduzir as emissões totais a partir de 2030, tornando-se neutra em carbono até ao ano de 2060.

Não obstante a ambição patente nas metas do governo chinês, os recentes avanços no sentido do aumento da produção de carvão, fomentam o surgimento de dúvidas, sobre a real tangibilidade das mesmas.

A reforçar essas dúvidas, aparecem os dados do Climate Transparency Report, que apontam para um aumento, no presente ano, de 4% das emissões carbónicas, com a China a ser um dos três países que irão exceder os valores de emissões já registados em 2019. Para esse aumento, conflui o já referido aumento da produção de carvão, que atingirá este ano também um aumento de 5%, sendo a China responsável por 61% desse aumento. 

Perante os recentes desenvolvimentos, o governo chinês veio nos últimos dias assumir que apesar da necessidade de controlo de emissões, não se poderá descurar a segurança energética e alimentar.

Apesar de estar marcada a COP26 – a maior cimeira desde as negociações de 2015 -, de entre 31 de outubro a 12 de novembro, em Glasgow, o presidente chinês já anunciou que não estará presente, numa altura em que vão surgindo dúvidas sobre a capacidade da China atingir as suas metas da transição energética.

Autor: Paulo Pereira

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