Sub-valorização dos IPOs, o dilema financeiro do momento

Underpricing é um fenómeno bastante comum no mercado financeiro, que é detrimental para as empresas que se tornam de capital aberto. Neste artigo irá-se analisar melhor o fenómeno, quais as suas consequências e algumas explicações.

O que é underpricing?

A sub-valorização das Initial Public Offerings (IPOs) é conhecida como underpricing. Este consiste em realizar um IPO com as ações da empresa cotadas a um preço abaixo do verdadeiro valor. 

Uma forma de determinar se houve underpricing é a de verificar o valor das ações da empresa no fim do seu primeiro dia de trading. No caso de este valor estar acima do preço da IPO, considera-se que as ações da empresa foram underpriced (avaliadas abaixo do seu verdadeiro preço). Este método assume, portanto, que os mercados financeiros são eficientes, e que, por isso, no 1º dia de trading, os investidores irão fazer com que o valor das ações da empresa seja o seu verdadeiro preço. 

Underpricing é um fenómeno bastante recorrente nas IPOs. Na verdade, de 1980 a 2020, é estimado que o valor total “deixado na mesa” (quanto todas as ações em IPOs foram sub-valorizadas) foi de 201,73 mil milhões de dólares.

É de notar que este fenómeno não é simplesmente explicado por um erro de valorização da empresa, uma vez que o erro de valorização não é aleatório e as empresas são normalmente sub-valorizadas, sendo a média cerca de 20%

As consequências do underpricing 

O fenómeno de underpricing é de curta duração, pois só é verificado até ao fim do 1º dia de trading das ações. No entanto, apesar da sua pequena duração, este fenómeno tem bastantes repercussões para a empresa e para os seus investidores.

Primeiramente, devido ao underpricing, existe dinheiro “deixado na mesa”, o que representa financiamento que a empresa não obteve na IPO. O fenómeno é então desfavorável não só para a empresa como os seus acionistas iniciais, já que existe uma perda de riqueza.

Os novos investidores, por sua vez, no caso de terem adquirido ações na IPO, verificam um aumento da sua riqueza, já que adquiriram ações a um preço mais baixo do que o seu verdadeiro valor.

Razões para underpricing

Muitos investigadores tentam responder à questão do porquê de o fenómeno underpricing ser tão prevalecente nos mercados financeiros. Algumas das suas conclusões são:

  • Assimetria de informação

Esta explicação é a mais proeminente e com mais pesquisa a apoiá-la, tendo sido introduzida em 1986 por Kevin Rock

Esta justificação supõe que existem 2 tipos de investidores: os informados e os não-informados. Investidores informados apenas irão investir em IPOs que lhes trarão retorno, o que leva a que apenas investidores não-informados invistam em IPOs de baixa qualidade. 

Deste modo, de modo a compensar os investidores não-informados, e a evitar que estes deixem o mercado dos IPOs, os issuers utilizam o underpricing para que todos os investidores obtenham retornos positivos.

  • Teoria da litigação

Esta teoria, primeiramente introduzida por Seha Tiniç em 1988, defende que o underpricing é utilizado para reduzir a probabilidade de os bancos de investimentos serem processados pelos investidores. No entanto, é de notar que a literatura tem tido conclusões contraditórias acerca desta justificação.

Uma vez que através do fenómeno os investidores obtêm retornos positivos, é mais provável que não recorram a conflitos, e que a reputação do banco de investimento aumente ou não seja danificada.

  • Conflitos de gestão 

Esta hipótese defende que o underpricing é um fenómeno financeiro consequente das decisões da gestão da empresa. Segundo a hipótese, esta tem em seu interesse que a cotação da IPO seja abaixo do seu verdadeiro valor. 

Havendo underpricing, existe maior procura, o que significa que todas ou quase todas as ações em IPO serão vendidas. Em adição, este fenómeno pode significar que os acionistas têm a possibilidade de vender as suas ações a um preço maior assim que lhes for possível (já que normalmente existe uma cláusula que lhes impede de vender as suas ações por um determinado período de tempo após a IPO).

Esta nova forma de olhar para os mercados financeiros pode explicar parte do fenómeno do underpricing -através de comportamentos irracionais natos ao ser humano. 

No entanto, é estimado que esta disciplina das Finanças apenas explique parte do fenómeno, sendo que para grandes sub-valorizações (tal como a do LinkedIn) devem haver outras razões que levaram ao underpricing

Conclusão

Underpricing é um fenómeno bastante recorrente nos mercados financeiros que, tendo repercussões reais, não é fácil de explicar. 

Sendo, contudo, um fenómeno bastante recorrente, é do interesse de investidores continuarem a investir em IPOs, pois normalmente estes levam a um retorno positivo.

Autora: Ana Margarida Costa

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