Será o mundial de futebol no Qatar o primeiro a atingir a neutralidade carbónica?

No seio de uma competição já batizada como a mais polémica de sempre surge uma possibilidade altamente questionada pelos especialistas

Com início já no próximo dia 20 de novembro, o Mundial de futebol que terá lugar no Qatar já demonstrou ser um para os livros de história, mesmo antes do início das atividades desportivas, pelas piores razões.

Tudo começou com a composição de uma força de trabalho de 2 milhões de migrantes para as megalómanas obras que antecedem o início da competição. Falamos da construção de 7 estádios de futebol e a recuperação de um oitavo, um novo aeroporto, uma nova rede de metro e estradas para deslocação entre as cidades anfitriãs e cerca de 100 novos hotéis para hospedar jogadores, comitivas e adeptos de todo o mundo.

Agências de notícias por todo o mundo relataram as grandes dificuldades que estes trabalhadores atravessam, com condições de higiene indignas e a falta de pagamento digno para a tarefa desempenhada com temperaturas que chegam aos 50 graus Celsius. O culminar desta situação, que levou algumas seleções a ponderar o boicote à competição, deu-se com a notícia de que cerca de 7000 trabalhadores haviam perdido a vida no decorrer dos trabalhos, algo que a comunidade internacional rapidamente condenou, responsabilizando a FIFA, enquanto entidade organizadora.

No entanto, relatórios recentes alegaram aquela que seria a primeira “vitória” deste projeto, através da neutralidade carbónica de todo o torneio, tornando-o o primeiro Campeonato do Mundo de futebol a atingir tal feito. Esta seria uma ótima notícia para a FIFA, que tenta incessantemente vender a ideia de que este será o melhor mundial de sempre, em resposta às várias ondas de criticismo que lhes chegam pelos mais variados assuntos.

Rapidamente, várias entidades condenaram esta campanha de neutralidade carbónica, afirmando que o esforço de construção e de transporte de fãs e atletas seria virtualmente impossível de compensar. As críticas estendem-se ainda ao facto da economia catariana ter uma forte componente relativa à exploração de combustíveis fósseis, que serviu de patrocinador para o esforço financeiro de organização do torneio.

Em resposta, o governo do Qatar desmentiu as alegações de que não será capaz de compensar as emissões de carbono extraordinárias motivadas pela preparação e decorrer do evento, apoiado na compra a larga escala de créditos de carbono, a construção de uma floresta artificial para purificação do ar e a expansão da rede de energias renováveis do país.

No entanto, especialistas rapidamente lançaram as suas dúvidas sobre a veracidade destas medidas. De facto, estima-se que seriam precisos mais 3,6 milhões de créditos carboníferos para atingir a desejada neutralidade carbónica do torneio. Adicionalmente, o poço de captação de carbono, sob a forma de uma floresta recém-plantada, não parece ser mais do que mais uma manobra política, já que a capacidade de captação de carbono alegada parece só poder ser atingida no espaço de mais de 200 anos.Nesse sentido, a entidade BADvertising precipitou-se a atribuir a esta competição e aos seus organizadores o Bad Sports Award pelas campanhas de greenwashing, que foram levadas a cabo. Esta é mais uma pedra no sapato da FIFA e altas instâncias do futebol mundial, que têm atravessado períodos de grande dificuldade reputacional, devido à insustentabilidade do negócio que operam.

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