Os portugueses e as poupanças nos anos de pandemia

A poupança das famílias e empresas serve para estas conseguirem fazer face a imprevistos, sem recorrer a créditos ou incumprimentos.

No pré-pandemia as famílias e empresas consumiam acima do seu nível de rendimento, pelo que o crédito ao consumo assumia valores cada vez mais altos e era um dos créditos mais procurados em Portugal.

Com a chegada da pandemia, esta realidade alterou-se. Os portugueses aumentaram as suas poupanças, não por um motivo de precaução, como é habitual acontecer aquando das recessões económicas, mas sim porque foram forçados a isso. Os portugueses deixaram de ter a possibilidade de realizar refeições em restaurantes ou simplesmente ir de férias, pelo que os valores gastos neste tipo de atividades foram alocados às poupanças.

Neste seguimento, espera-se que haja um rápido aumento do consumo, para níveis pré-pandemia. No entanto, não será possível gastar num curto espaço de tempo toda a poupança efetuada nestes últimos dois anos. Segundo os economistas Thomas McGregor, Nujin Suphaphiphat e Frederik Toscani as famílias não poderão, por exemplo, compensar todos os voos, estadias em hotéis ou refeições em restaurantes que cancelaram/não efetuaram.

O Gráfico 1 evidencia a quantidade de poupança efetuada entre os anos de 2015 e 2021 para as famílias da Área do Euro, sendo que para 2021 os dados são projeções. O gráfico mostra ainda o montante de poupança extra efetuado nos anos 2020 e 2021.

Gráfico 1 – Poupanças em tempo de pandemia
Fonte – Fundo Monetário Internacional (FMI)

Pela sua análise é possível observar que o nível extra de poupança concretizado nos anos de pandemia representou praticamente metade do nível de poupança efetuado em tempos normais para esses mesmos anos.

Apesar de em 2021 estes valores diminuírem, ainda apresentam uma grande fatia na poupança. Os economistas mencionados supra indicam que as famílias pouparam o equivalente a cerca de 8% do PIB da área total do euro nos anos de pandemia. O FMI avança com a informação de que os europeus pouparam mais um bilião de euros do que seria esperado, nos anos de 2020 e 2021.

Numa visão macroeconómica, pode-se afirmar que a poupança tem impacto no PIB de um país, bem como na taxa de inflação.

Assim, PIB calculado pela ótica da despesa é igual ao somatório entre o consumo privado, os gastos públicos, o investimento e o saldo da balança comercial (dado pela diferença entre as exportações e as importações).

Acontece que na componente do consumo privado está também incorporada a taxa de poupança. Dado o mesmo nível de rendimento, quanto maior for a poupança, menor será o consumo. Por outro lado, quanto menor for o consumo, dadas todas as outras variáveis constantes, menor será o produto interno bruto de uma economia. Nesta lógica, quanto maior for a poupança, menor será o produto interno bruto.

No entanto, esta lógica não é linear. Notar que as poupanças efetuadas pelas famílias são depositadas nos bancos, que alocam estes valores para o investimento, que é o motor de uma economia. Desta forma, quanto maior for a poupança, maior será o investimento e, consequentemente, maior será o produto interno bruto.

Contudo, a poupança afeta o PIB por duas componentes distintas e em sinais contrários, ou seja, de forma negativa e positiva: a poupança terá um maior peso pela componente do investimento, pois não tem em consideração a taxa de propensão marginal ao consumo (que varia sempre entre 0 e 1) e que está presente na componente do consumo privado.

Para além disso, a poupança tem também um efeito na taxa de inflação. As famílias ao voltarem aos níveis de consumo pré-pandemia vão fazer com que haja um aumento da procura que, a curto prazo, não será correspondido pela oferta, o que originará uma subida de preços. Recentemente, o salário mínimo aumentou, o que em tempos de inflação não é benéfico, contribuindo para que as entidades governativas estejam a par desta situação.

Assim sendo, as poupanças impulsionam o investimento, mostrando-se benéfico para a economia, porém também geram inflação, pelo que é necessária uma gestão controlada das mesmas por parte do Governo.

Autora: Márcia Soares

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