O Parlamento Europeu encontra-se novamente nas “luzes da ribalta”, devido a um caso de corrupção que já é considerado como o mais sério, mais chocante e mais flagrante a atingir a União Europeia nos últimos anos. O caso foi denominado de “Qatargate”, estando em causa as suspeitas de que o Qatar, anfitrião do Mundial de Futebol, terá tentado influenciar decisões políticas e económicas no Parlamento Europeu.
Ao longo deste artigo iremos conhecer mais detalhes sobre este caso, nomeadamente o que envolve e quem está envolvido nele. Um caso a ter em atenção, sendo por muitos considerado como o escândalo de corrupção mais grave a ter lugar no “coração” da União Europeia.
O que aconteceu?
Antes de passarmos para os envolvidos, é importante percebermos o que implica um caso tão complexo e o que aconteceu para a corrupção entrar num local que deveria ser “à prova” de qualquer circunstância problemática.
Os primeiros acusados e detidos no âmbito deste caso, foram a vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili, assim como, mais três pessoas, sendo todos suspeitos de corrupção.
A vice-presidente do Parlamento Europeu, Eva Kaili, foi apanhada em flagrante delito, sendo que por isso não está abrangida pela imunidade que o cargo que desempenha lhe concede. A polícia federal belga realizou no âmbito das investigações deste caso, 16 buscas, tendo apreendido aquando da sua realização, 600 mil euros, telefones e computadores.
Qual é a gravidade deste caso?
O chefe da Transparência Internacional, Michiel van Hulten, já afirmou que o “Qatargate” se trata do caso mais flagrante de corrupção que o Parlamento Europeu experienciou nos últimos anos. Michiel van Hulten defende que o Parlamento Europeu criou uma cultura de impunidade, impulsionada por uma combinação de regras e de controlos financeiros deficitários, bem como, por uma inexistente falta de supervisão ética independente.
Contudo, devemos ter em consideração que por tudo a que temos assistido atualmente, este caso pode ser apenas uma “ponta do icebergue”, e que com ele podem surgir vários escândalos até agora desconhecidos.
Eva Kaili
Antes de continuarmos a desvendar mais detalhes sobre este caso, é necessário conhecermos a sua “atriz principal”. Então quem é Eva Kaili?
Eva Kaili é uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, ou seja, uma das pessoas mais poderosas na instituição, sendo que antes de ingressar no Parlamento foi apresentadora de notícias na Grécia.
As suspeitas sobre Eva Kaili tiveram o seu primeiro capítulo quando esta se tornou uma grande defensora do Qatar, chegando mesmo a proferir declarações que causaram grande estranheza no Parlamento Europeu. Uma das declarações mais “estranhas” proferidas por Eva Kaili prende-se com o facto de esta ter caracterizado o Qatar como um país “pioneiro dos direitos laborais”, quando é de conhecimento público que as condições laborais no país são inumanas, tendo falecido milhares de trabalhadores imigrantes na construção dos estádios para o Mundial de Futebol, devido à falta dessas condições laborais.
Após a sua detenção, o Parlamento Europeu procedeu à suspensão imediata do seu mandato em todas as instituições e órgãos políticos onde estava presente.
Outros envolvidos no caso
Além de Eva Kaili, também o seu parceiro Francesco Giorgi foi detido. E quem é Francesco Giorgi? Francesco Giorgi é um conselheiro no Parlamento Europeu para a região do Oriente Médio e Norte de África, sendo também o fundador de uma ONG denominada de “Fight Impunity”. Esta ONG tem como objetivo fundamental o de elevar a prestação de contas como um dos pilares fundamentais da justiça internacional. Irónico não é? Dado toda a situação em que se encontra envolvido.
Outro detido no âmbito deste caso foi o presidente da Fight Impunity, Pier Antonio Panzeri, um ex-eurodeputado italiano. Juntamente com Panzeri foram também detidas a sua mulher e filha. Panzeri é acusado de interferir com membros que trabalham atualmente no Parlamento Europeu em favor do Qatar e de Marrocos.
Niccolò Figà-Talamanca. O nome de outro dos detidos. É diretor-geral de outra ONG, denominada de “No Peace Without Justice”, a qual está vocacionada para a justiça criminal internacional, para os direitos humanos e para a promoção da democracia no Oriente Médio e no Norte de África. Apesar de estar oficialmente sediada em Nova Iorque e Roma, a organização ostenta o mesmo endereço de Bruxelas que a “Fight Impunity”.
Que medidas se tomam a partir de agora?
Tendo em conta todos estes acontecimentos, é expectável que a Comissão Europeia proponha a criação de um órgão de ética independente, o qual não só se aplique a todas as instituições da União Europeia, como também, detenha poderes como o de investigação ou de execução.
Resposta oficial do Qatar e as possíveis consequências para o país
O Governo do Qatar já reagiu em comunicado oficial, defendendo que qualquer associação do Governo do país, a todas as alegações relatadas é complementarmente infundada e gravemente mal informada. Além disto, o Governo do Qatar afirma que o país realiza todas as suas operações e envolvimentos em total concordância com as leis e regulamentos internacionais. Uma das consequências imediatas para o país prende-se com a suspensão da proposta de liberalização de vistos para qataris.
Outra consequência que apesar de parecer de menor escala, representa uma grande desvantagem para o Qatar prende-se com o cancelamento da ida ao Qatar por parte do Comité de Relações Exteriores do Parlamento. De acordo com os planos iniciais, o Comité de Relações Exteriores do Parlamento apenas irá manter a deslocação à Arábia Saudita, o que deixa o Qatar em desvantagem perante um dos seus maiores rivais.
O que retirar de todo este caso?
Tendo em consideração todas as informações que se sabem até ao momento, é de relevo destacar a permeabilidade do Parlamento Europeu, sendo possível que qualquer pessoa ou país influencie as decisões políticas estabelecidas no seu interior. Outro elemento a ter em conta prende-se com a ascensão do Qatar e a marcação da sua posição no contexto internacional, primeiro com a realização do Mundial de Futebol e depois com todos estes escândalos que evidenciam o desejo do país de se integrar e favorecer a sua posição perante os restantes países. Através da lista de detidos conhecidos atualmente, é possível verificar que todos eles têm ligações ao Oriente Médio e Norte de África. Coincidência? Possivelmente não.
Em suma, com este escândalo de corrupção a União Europeia terá de reforçar as suas políticas de fiscalização e execução, de modo a evitar que estes acontecimentos surjam novamente no futuro. Veremos os novos capítulos que irão surgir inevitavelmente, e a forma como a União Europeia irá combater e lutar contra o caso mais flagrante de corrupção nos últimos anos na seio da instituição.
Patrícia Neves, 24 anos, natural de Coruche no distrito de Santarém. Licenciada em Jornalismo e apaixonada pela escrita. Tem experiência como Content Writer and Content Producer e gosto de todos os temas que estejam relacionados com o mundo. Além disso, desenvolvi, por intermédio de experiências e formação, interesse nas áreas da economia e finanças.
