Os quatro tipos de crédito

O crédito, de uma forma geral, pode ser visto como um ato de confiança entre uma empresa, seja ela banco, entidade financeira ou qualquer outra e o seu cliente, já que é entregue ao cliente um determinado produto ou serviço apesar de esse mesmo cliente não ter o dinheiro suficiente para o pagar. Os créditos, ou empréstimos, fazem hoje parte do nosso dia a dia e a esmagadora maioria de nós já teve, tem ou vai ter algum tipo de crédito na vida. Neste artigo vamos falar mais em detalhe sobre os tipos de crédito que existem e os cuidados que devemos ter.

Tipos de crédito existentes

Neste artigo não vamos falar do objetivo do crédito, ou seja, não vamos falar especificamente de crédito pessoal, automóvel, habitação e afins. Vamos falar de uma forma mais genérica sobre créditos maus e créditos bons. Sim, é verdade, existe um tipo de crédito que é visto como “crédito bom” ou “dívida boa”. Estes tipos de créditos são formas importantes de aumentar o nosso património, já que nos permitem acelerar a quantidade de ativos que compramos para as nossas carteiras. Claro que continuam a ter créditos e continuamos a dever dinheiro a alguém, mas o funcionamento é bastante diferente. Vamos então ver os 4 tipos de créditos que, na minha opinião, existem:

Crédito Péssimo

Nesta categoria, enquadra-se todo aquele crédito que pedimos para consumo imediato como, por exemplo, férias, eletrodomésticos ou simplesmente dinheiro na conta para gastar em qualquer coisa que nos apeteça. Se pedimos dinheiro emprestado e o gastamos neste tipo de coisas, então enquadra-se nesta categoria e deve de ser evitado ao máximo. Atenção que a utilização do cartão de crédito para estes fins enquadra-se exatamente na mesma categoria.

Porque motivo este é, a meu ver, o pior tipo de crédito existente? Porque é usado diretamente em consumo, ou seja, depois de ser gasto ficamos apenas com uma dívida para pagar e nenhum bem associado a essa dívida. Claro que podemos falar da importância de fazer uma viagem de sonho e de todas as boas memórias e experiências que lhe são associadas, mas numa perspetiva puramente financeira, os créditos deste género são um desastre autêntico e, infelizmente, muito mais recorrentes do que deviam de ser.

Agrava ainda mais o facto de este ser, tendencialmente, o tipo de crédito mais caro. Os créditos pessoais ou ao consumo facilmente têm taxas de juro de 8% ou 9% e os cartões de crédito chegam a 13% ou 14%. Se a este tipo de créditos não estiver associado um plano agressivo de amortização, são aqueles que mais facilmente nos fazem entrar numa espiral financeira decrescente.

Crédito Mau

Este tipo de crédito é aquele que é utilizado para comprar coisas com valor relevante e que entram para os nossos cálculos do ativo, mas que desvalorizam e geram um fluxo de caixa negativo. Se os tópicos de “ativo” e de “fluxo de caixa” não são familiares,  então convido a ler este artigo.

Qual o motivo porque este é um mau tipo de crédito? Vamos imaginar o cenário de uma compra de um carro que custa 10.000€ e nós pedimos o crédito na totalidade, os 10.000€. Ao fim de algum tempo, a dívida está mais baixa, claro, porque já pagamos algumas prestações e já só devemos, por exemplo, 9.000€. No entanto, nessa mesma altura é bastante provável que o carro valha menos do que 9.000€. Este é o problema. Assim que compramos bens deste tipo, é muito provável que, rapidamente, estejamos a dever mais do que o bem realmente vale, o que faz com que tenhamos um património líquido negativo nesta operação.

Crédito Médio

Aqui vamos incluir os créditos que são utilizados para comprar bens, ou ativos, que valorizam mas que geram fluxo de caixa negativo. O exemplo mais óbvio é a compra de casa para habitação própria. Sabemos que, tendencialmente, o mercado imobiliário valoriza, por isso o facto de utilizarmos o dinheiro para comprar algo que sobe de valor é algo positivo.

Um cenário prático: pedimos 100.000€ para comprar uma casa de 100.000€. Vamos ignorar os limites de financiamento e afins, a bem da simplificação de contas. Ao fim de algum tempo, a dívida é de 95.000€ mas a casa vale, por exemplo 110.000€. Ao contrário do exemplo anterior, aqui o património líquido vai ficando cada vez maior, o que é algo que queremos.

No entanto, esta casa gera despesas, além do crédito, como os impostos e seguros, o tal fluxo de caixa negativo. Todos os meses, literalmente, ou não, existe saída de dinheiro da nossa conta bancária associado a este ativo.

Assim, por um lado, existe uma valorização do ativo mas, por outro, há um fluxo de caixa constante negativo. Pesando as duas coisas, classifico este tipo de operações de crédito como tendo qualidade média.

Crédito Bom

Por último, chegamos ao crédito que todos nós queremos, ou podemos querer: o crédito bom. Este é aquele crédito que é utilizado para comprar ativos que valorizem ao longo do tempo e que ainda gerem fluxo de caixa positivo.

O exemplo mais direto é a compra de um imóvel para colocar no mercado de arrendamento. Além de termos a valorização do imóvel em si, tal como no “crédito médio”, neste caso ainda iremos receber uma renda que, espera-se, cubra todos os custos associados ao imóvel e ainda sobre algo no final.

Desta forma, estamos a ganhar em duas frentes: na valorização do ativo e no fluxo de caixa gerado, aumentando ainda mais o nosso património líquido.

Cuidados a ter, especialmente no “crédito bom”

É importante termos bem presente na nossa cabeça que crédito é crédito, independentemente do tipo. Ao assumirmos o compromisso de um crédito temos de estar preparados para o pagar, dê por onde der, já que se não o fizermos ficamos com um problema em mãos.

Isto é importante em todos os tipos de crédito, mas é especialmente relevante no “crédito bom” já que é fácil cairmos na armadilha do fluxo de caixa gerado. Utilizando o exemplo do imóvel para arrendamento, nunca devemos confiar que o inquilino vai pagar sempre a tempo e horas aquilo que deve e que vai morar na casa para sempre. As coisas mudam e os imprevistos acontecem. Claro que devemos fazer as contas assumindo um cenário positivo em que o nosso investimento corre como esperado, mas devemos ter um plano de recurso preparado para o caso de não correr como esperado. Isto significa que devemos ter a capacidade de suportar esse crédito mesmo que o investimento corra assustadoramente mal.

Com isto em mente, a palavra chave é planeamento”. Devemos olhar para o nosso orçamento pessoal e perceber até onde podemos ir em termos de dívida e de custo mensal da dívida. Se estivermos a contar apenas e só com o retorno do investimento para pagar a dívida, então estamos a correr um risco, a meu ver, desnecessário.

Este cuidado é ainda mais relevante se falarmos em alavancar outro tipo de investimento como, por exemplo, o investimento na bolsa de valores. Vamos imaginar o cenário otimista: pedimos um crédito pessoal a pagar 7% ao ano e investimos num fundo do S&P500 que sabemos ter um retorno médio anual histórico de 10%. Se tudo correr de acordo com a média, é um bom negócio, certo? Enquanto a dívida existir eu estou a ter um ganho de 3% e quando a dívida estiver paga, passo a ter um ganho de 10%. E isto tudo com o dinheiro do banco. Brilhante, não é?

Agora vamos ver o cenário menos bom e, na verdade, que vai ao encontro do que tem sido a realidade de 2022. O mesmo S&P500, da rentabilidade histórica anual dos 10% por ano, está este ano a perder perto de 25%. Se tivéssemos feito o mesmo negócio descrito no parágrafo anterior estaríamos agora com um problema, já que estávamos a pagar 7% sobre algo que desvalorizou 25%, o que significa que não só o investimento não está a pagar a dívida com ainda nos obriga a colocar bastante dinheiro nosso para a pagar. O cenário já não é assim tão animador pois não?

No início do artigo falamos que o crédito é um ato de confiança que o banco deposita em nós ao acreditar que vamos pagar a nossa dívida. Nós não queremos falhar nesse ato de confiança. O impacto que isso tem na nossa vida futura pode ser enorme!

Conclusão

Um elevado nível de literacia financeira vê-se também na responsabilidade que temos para lidar com o crédito e as nossas dívidas, de uma forma geral. Como foi mencionado mais atrás, tudo isto parte do nosso planeamento financeiro. Só quando temos uma visão total sobre aquilo que temos, o que devemos, o que ganhamos e gastamos é que conseguimos realmente perceber até onde nos podemos endividar e correr riscos.

O crédito existe e pode ser utilizado de diferentes formas. É um instrumento financeiro que, por si, não é bom nem mau. A utilização que lhe damos é que pode ser boa ou má. Se ponderamos recorrer a crédito, seja para que fim for, temos de garantir que pesquisamos e temos a certeza do que estamos a fazer.

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