Os melhores investimentos para épocas de inflação alta

Desde Janeiro de 2020 que a inflação continua a subir, atingindo níveis não registados há décadas. Esta taxa de inflação crescente origina, em suma, duas coisas: receio nos investidores e uma inevitável subida das taxas de juro.

A subida da inflação leva a que as famílias tenham receio de não ter capacidade para manter o seu estilo de vida atual e, por essa mesma razão, podem retirar dinheiro dos seus investimentos, o que, por sua vez, origina uma enorme pressão de venda nos mercados. Essa pressão de venda pode ter como consequência o começo de uma queda nos mercados. A inevitável subida das taxas de juro torna as obrigações do Tesouro muito mais atrativas para os investidores visto que, anteriormente, um investidor conseguiria retornos muito inferiores nas obrigações mais seguras que existem, as governamentais. Assim, e caso um investidor não retire o seu dinheiro do mercado por receio, retirá-lo-á, provavelmente, pelo aumento da taxa de juro das obrigações do Estado devido ao aumento da sua atratividade no que concerne aspetos de rentabilidade e segurança. Isto é, um aumento considerável na inflação de um país pode originar uma forte queda nos mercados financeiros desse mesmo país e dos restantes que se encontrem dependentes do mesmo.

E como é que nós, investidores, podemos investir o nosso dinheiro da melhor forma, de modo a minimizar ao máximo as imensas consequências que advêm de uma inflação altíssima? Antes de nos debruçarmos sobre o tema do artigo de hoje, é necessário entender o que é a inflação.

O que é a inflação?

A inflação é, nada mais nada menos que, o aumento generalizado dos preços. Por exemplo, à data da escrita deste artigo (Julho de 2022), Portugal encontra-se com uma taxa de inflação de 8,7%, sendo esta referente ao mês de Junho. O que significa isto? Significa que, um produto que em Junho de 2021 custaria 10 euros, em Junho de 2022 custará mais 8,7% (10,87 euros). Ou seja, se tudo se mantiver constante e apenas o preço dos produtos subirem, a população vai perder poder de compra, ou seja, vai conseguir comprar cada vez menos produtos caso os seus rendimentos permaneçam constantes.

E quais serão os investimentos a fazer para que quem investe consiga, de certa forma, contornar as implicações do aumento da inflação?

1. Ouro

O ouro é frequentemente considerado um ativo de cobertura contra a inflação. Contudo, apesar de ser um bom investimento nestas épocas, deixa de o ser a partir do momento em que são tomadas medidas de combate a essa mesma inflação. E porquê? Tal como referido anteriormente, quando a inflação começa a subir, as taxas de juro devem, quase de forma inevitável, subir também. Ou seja, em épocas de inflação o ouro é um bom investimento, dado que é considerado um ativo de refúgio para quem se quer salvaguardar contra a inflação, sendo que uma subida na alocação de capitais neste ativo origina um aumento no seu valor. Porém, quando as taxas de juro começam a subir de forma a combater a inflação, o ouro tende a perder valor, sendo que os investidores retiram o seu dinheiro, para investirem em algo um pouco mais atrativo, como as obrigações.

2. Obrigações

Uma obrigação é, tal como o nome indica, quando se “empresta” capital a uma entidade e essa entidade tem a obrigação de devolver esse mesmo capital, acrescido de juros previamente acordados.

Como devem imaginar, emprestar capital a uma empresa com poucas provas dadas e que é, de certa forma, algo instável, é mais arriscado do que emprestar capital ao governo português. E é exatamente aí que entram os ratings de obrigações.

O que são ratings de obrigações?

Os ratings de obrigações são as classificações dadas à qualidade de crédito de uma determinada entidade. Quanto pior a qualidade do crédito (obrigações mais arriscadas/especulativas), pior é o rating e, por sua vez, quanto melhor a qualidade do crédito (obrigações mais seguras), melhor o rating da entidade. Geralmente, quanto pior o rating, mais altas são as taxas de juro, de forma a que o investimento possa ser vantajoso na ótica do investidor. Geralmente, mais risco = mais retorno.

Existem diversas entidades que fazem os ratings destas obrigações, sendo as mais conhecidas a Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch. As figuras abaixo ilustram esses mesmos ratings.

Rating da Standard and Poor’s
Rating da Standard and Poor’s (S&P Global Ratings, 2021)
Rating da Moody’s
Rating da Moody’s (Moody’s Investors Service / Understanding ratings, 2022)
Rating da Fitch
Rating da Fitch (Fitch Ratings, 2022)

É possível investir em obrigações através da compra direta à entidade, como aconteceu quando o Sporting CP ou FC Porto emitiram obrigações. Para além disso, a compra pode-se realizar, ainda, através de uma corretora em formato de obrigação ou em formato de ETF.

3. Commodities (Matérias-primas)

As commodities são, de forma resumida, matérias-primas. Matérias-primas essas que irão dar origem aos produtos que consumimos.

Como referido acima, a inflação é a subida generalizada dos preços para o consumidor final. E porque é que, muitas vezes, o “preço final” sobe? Devido ao aumento do preço matérias-primas. Se as matérias-primas aumentam, o preço final dos produtos tem, obrigatoriamente, de subir. Deste modo, se investirmos em matérias-primas vamos, na teoria, conseguir aproveitar essa subida.

É possível investir em commodities através da compra física das mesmas, ou através de corretoras. Para além disso, é ainda possível estar exposto a este ativo através de ETFs como o LYTR ou o MRIC.

4. REITS (Real Estate Investment Trusts)

REITs são empresas que detêm, no seu portfólio, imobiliário gerador de renda. Existem REITs de vários setores, como o farmacêutico, residencial, industrial, de escritórios, entre outros. No entanto, no fundo, o que estes REITs fazem é adquirir e reabilitar ou construir imobiliário, para, posteriormente, arrendar.

Os investidores, ao investirem nesses REITs, têm direito a uma parte dessas mesmas rendas, visto que os REITs têm a obrigatoriedade de pagar pelo menos 90% do seu lucro tributável aos acionistas.

Os REITs podem ser um bom investimento em épocas de inflação alta, porque, geralmente, quando a inflação sobe, os preços das casas e rendas também sobem. Desta forma, os REITs conseguem gerar mais dinheiro e, consequentemente, distribuir mais dividendos aos seus acionistas.

5. Ações

Tal como mencionado no início do artigo, a inflação resulta, por diversas vezes, numa queda abrupta dos mercados financeiros. Ainda assim, será que todos os setores caem em igual proporção? Será que nenhum setor consegue permanecer positivo em épocas de inflação alta?

A resposta é não. Os distintos setores de atividade são afetados por diferentes variantes e, como é natural, nem todos os setores sofrem em épocas de inflação.

Quais são os setores que melhores performances apresentam em épocas de inflação?

1. Setor de bens de consumo

O setor dos bens de consumo apresenta uma grande vantagem: consegue passar o aumento dos seus custos para os consumidores. Assim, se a matéria-prima de um produto aumenta, levando ao aumento do preço de custo desse produto, as empresas neste setor apenas têm de aumentar o preço para o consumidor final. Desta forma, as empresas conseguem gerar a mesma quantidade de lucro, visto que a sua margem permaneceu igual. Logo, como na teoria os seus aspetos fundamentais não se alteram, os investidores procuram investir nas empresas pouco afetadas pela inflação, de modo a protegerem-se contra a mesma.

2. Setor dos cuidados de saúde (healthcare)

O setor de healthcare tem crescido significativamente mais do que a economia, de forma geral. A pandemia da COVID-19, aliada aos inúmeros avanços registados, originou uma transformação considerável no setor.

Para além disso, o setor em questão tem reportado, historicamente, performances acima da média do mercado em épocas de inflação e, por essa mesma razão, pode ser uma boa opção de investimento contra a inflação.

3. Setor financeiro

O setor financeiro é, tal como o setor farmacêutico e como o setor de bens de consumo, um setor que tem apresentado melhores performances em épocas de inflação comparativamente ao restante mercado. Assim, pode também ser uma boa opção em épocas de inflação.

Segue-se uma enumeração de alguns exemplos das boas performances destes setores segundo a Fitch Ratings, 2022.

Em 2000, enquanto o mercado caía devido ao crash das empresas tecnológicas, os setores com melhores performances foram: setor de bens de consumo, setor de healthcare, setor energético, setor financeiro e setor de utilidades (eletricidade, água, entre outros).

Em 2008 quando, mais uma vez, todos os setores caíram devido à crise financeira, os setores com melhores performances foram: setor de bens de consumo, setor de healthcare e o setor das utilidades.

Em 2020, quando se registou a pandemia da COVID-19, os setores com melhores performances foram, novamente, o setor de bens de consumo, juntamente com os setores de tecnologias de informação e de telecomunicações.

Conclusão

A inflação representa, tal como referido anteriormente, um perigo real à expansão de uma economia. Como tal, e de forma a conseguir, de algum modo, contornar os aspetos negativos da inflação, é necessário saber onde investir o nosso dinheiro. Após uma pesquisa significativa, cheguei, através dos resultados da mesma, à conclusão de que os melhores ativos para investir em épocas de inflação alta são o ouro, as obrigações, as matérias-primas, o setor imobiliário e as ações.

Cada um destes ativos apresenta características únicas que revelam fragilidades e vantagens próprias. Desta forma, não é possível afirmar que existe um investimento certo a fazer, sendo que irá depender de inúmeros fatores, como, por exemplo, o perfil do investidor em causa e as crenças, objetivos e ideais do mesmo.

Este é um artigo de opinião e não representa qualquer tipo de aconselhamento financeiro, servindo apenas para fins educativos e informativos. Investir apresenta riscos e deve sempre procurar compreender os produtos financeiros disponíveis antes de investir.

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