OnlyFans pretende banir conteúdo sexual em outubro

Recentemente a empresa OnlyFans anunciou que pretende banir o conteúdo sexual em outubro. Neste artigo iremos apresentar esta empresa e o seu impacto na economia, bem como as razões para esta decisão e as suas consequências.

O que é a OnlyFans?

OnlyFans é uma startup inglesa fundada em 2016 pelo empresário Timothy Christopher. A aplicação permite aos seus criadores de conteúdo publicarem vídeos ou fotos que podem ser acedidas mediante um pagamento mensal. A plataforma obtém receitas ao cobrar 20% das receitas dos criadores.

 Apesar da aplicação oferecer uma grande variedade de conteúdo (desde especialistas a dar aulas, a receitas culinárias e a treinos), o seu sucesso é maioritariamente devido aos canais dedicados ao conteúdo adulto. É de notar que apesar disso, a maior parte deste tipo de conteúdo consiste apenas em fotografias e vídeos mais riské, que não são necessariamente de caráter pornográfico. 

Depois da invenção se tornar bastante popular, o jornal britânico The Sunday Times apelidou o CEO, Tim Stokely, como “O Rei da Porno Feita em Casa”. Uma denominação justa uma vez que esta não era a primeira venture de Stokely no mundo do entretenimento adulto: em 2011 lançou um site de fetiches (GlamWorship.com), e em 2013 o website Customs4U (irei poupar os detalhes).

O impacto da plataforma na economia

Desde a sua criação, a empresa tem crescido e tornado-se mais popular graças à indústria de sexo que a alterou para sempre. 

A OnlyFans conseguiu com que qualquer pessoa se tornasse num(a) pornographer, uma vez que para isso basta apenas um smartphone e um estúdio – algo que a maior parte das pessoas dispõem. 

A plataforma, ao contrário de websites pornográficos, – para além de não ter conteúdo tão explícito – permite aos utilizadores uma maior afinidade com o/a criador(a) de conteúdo. Tal como Mathew Camp (um criador de conteúdo da aplicação) referiu ao New York Times, as pessoas “querem experiências mais íntimas. Querem uma experiência de namorado. Querem fantasiar sobre alguém com querem ter sexo sem se sentirem enojadas com isso”. 

Isto levou a que a indústria pornográfica entrasse em declínio. Em 2015, havia apenas um pequeno número de empresas a exercer monopólio. Os “atores” dizem ter verificado uma grande redução do seu rendimento, tendo de conciliar esta profissão com a de escort.

Em contrapartida, muitos criadores de conteúdo têm conseguido fazer dezenas de milhares de dólares num mês, tornando-se esta a fonte primária de rendimento para muitos dos seus usuários.

O porquê de quererem banir conteúdo explícito

A partir de 1 de outubro de 2021 a OnlyFans pretende banir o conteúdo sexual da sua plataforma, mas imagens com nudez podem ser publicadas desde que respeitem determinadas guidelines.

A empresa indicou que esta decisão de “evoluir as guidelines do seu conteúdo” foi tomada de modo a “garantir a sustentabilidade da plataforma a longo prazo”. 

Existem duas questões que ameaçam a sustentabilidade da empresa: o financiamento, e os riscos legais.

O problema do financiamento

De facto, a OnlyFans tem tido dificuldades em assegurar investimento, uma vez que muitos investidores estão hesitantes em associar-se com o conteúdo sexual da empresa apesar do seu grande crescimento. 

Muitas são as razões que levam os vários investidores a não apostarem numa empresa que espera ainda este ano ter 1,2 mil milhões de USD em lucro líquido e estar avaliada em 1 mil milhão de USD. Existem fundos de Venture Capital que estão proibidos de investir em conteúdo adulto graças a acordos de parcerias limitadas. Alguns investidores estão preocupados com a possibilidade de subscrição da plataforma por parte de menores, ainda que a empresa o tente prevenir. Outros investidores, apesar de conseguirem ultrapassar a questão pornográfica, preocupam-se com a reputação da OnlyFans e a sua capacidade de atrair parcerias com marcas.

Os problemas legais

Para além da necessidade de aumentar os investimentos, a OnlyFans decidiu limitar o conteúdo adulto também para evitar riscos legais. 

Segundo uma investigação conduzida  pela BBC, especialistas de moderação e de proteção de crianças indicam que OnlyFans tem alguma “tolerância” para contas a publicarem conteúdo ilegal. 

Não só a BBC encontrou publicidade de serviços de prostituição, como também bestialidade, incesto, e violação (um moderador reviu um vídeo onde um homem pagava a sem-abrigos para ter sexo com ele e gravarem-no). 

A questão mais problemática encontrada pela investigação é a de que depois do conteúdo ilegal ser removido, a OnlyFans deixa os moderadores darem múltiplos avisos aos criadores de conteúdo antes de fecharem as contas. O número de avisos e a forma como a situação é tratada depende da conta. Um moderador disse anonimamente: “no caso de contas com menos seguidores, restringimos quando necessário. (…) Com contas médias, devemos avisar mas só restringir no 3º aviso. Se um dos criadores melhor sucedidos e lucrativos quebrarem as regras, a conta é averiguada por outra equipa”.

Tendo isto em conta, é possível que a direção receasse que acontecesse à OnlyFans o mesmo que sucedeu no ano passado com o Pornhub. Os processadores de pagamento Mastercard e Visa cortaram relações com o website depois de acusações deste conter vídeos de sexo com menores de idade, violações, e pornografia de vingança (revenge porn).

As consequências da decisão

O facto da OnlyFans banir o conteúdo sexual em outubro terá consequências não só para a empresa como também para os criadores de conteúdo – especialmente os de conteúdo adulto.

Muitos “atores” de conteúdo exclusivo dependem da OnlyFans como a sua primária fonte de rendimento, sendo esta notícia dramática para estes. Vários criadores de conteúdo rapidamente realçaram que acreditam que a indústria tecnológica explora sex workers para obter lucro e aumentar o número de utilizadores, deixando-os depois sem nada, assim que a plataforma alcança a dimensão suficiente para se tornar mainstream.

A OnlyFans também será afetada negativamente com a decisão. Tal como Kenneth Pabon (uma criadora de conteúdo em Nova Iorque) disse “é como o Burger King dizer que não vai mais vender hambúrgueres. Isto é o que a OnlyFans é conhecida por.” No entanto, a empresa insiste que é mais do que apenas uma plataforma para sex workers. De facto, existe outro tipo de conteúdo produzido na plataforma: celebridades como Cardi B e Bella Thorne juntaram-se à plataforma, e esta também é utilizada por chefs, músicos e até entusiastas de fitness. No entanto, porno é a categoria mais popular no site.

Autora: Ana Margarida Costa

DEIXA UM COMENTÁRIO

Por favor, envie o comentário!
Por favor, escreva o seu nome aqui

spot_imgspot_img

Últimas notícias

Receba o ebook "Os primeiros investimentos" GRATUITAMENTE

Basta carregar no botão abaixo

Artigos Relacionados

spot_imgspot_img