Rating de crédito, o que é e qual a sua importância?

Nos últimos meses, países e empresas têm reportado níveis de dívida cada vez mais altos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), na sua atualização de 2021 do Banco de Dados de Dívida Global do FMI publicada esta quarta-feira, registou-se o maior aumento da dívida anual desde a Segunda Guerra Mundial. 

À medida que os países foram atingidos pela pandemia, a dívida global aumentou para 226 biliões (trillions) de dólares, o que representa 256% do PIB mundial em 2020. Os empréstimos dos governos representaram um pouco mais de metade desse aumento, já que a dívida pública global aumentou 20%. A fatia da dívida pública na dívida global atingiu novos máximos que já não se registavam há mais de 50 anos. Ainda de acordo com o FMI, a dívida privada aumentou 10% em 2020, refletindo em parte o apoio dos bancos centrais e do governo.

Fonte: FMI

Da seleção de países ocidentais mostrada, é evidente o esforço dos países em reduzir a sua dívida em percentagem do PIB no pós-crise das dívidas soberanas. No entanto, fica também bem visível o aumento expressivo da dívida no ano da pandemia que resultou da iniciativa dos governos e dos bancos centrais de apoiar as famílias e negócios atingidos pela pandemia e pela sua consequente recessão económica grave.

Com estas dívidas monstruosas a generalizarem-se um pouco por todo o mundo, é importante voltar ao conceito de custo da dívida, pois, segundo a empresa de rating de crédito Moody’s, a saúde das empresas tem vindo a deteriorar-se no que à capacidade de pagar dívidas diz respeito.

O que é, então, o custo da dívida?

Imaginando que um Estado ou uma empresa está a emitir dívida através de obrigações, a taxa de rendimento desses títulos é o custo da dívida. Ou, no caso de uma firma solicitar um empréstimo a um banco comercial, a taxa de juro corresponderá ao custo da dívida.

O custo da dívida pode ser calculado somando uma taxa de retorno de um ativo sem risco com um chamado default spread. A primeira componente do cálculo está geralmente associada a títulos do tesouro de países com economias fortes, como os EUA, pois não é previsível que um dos países mais poderosos do mundo não consiga pagar as suas dívidas. A outra parte do custo da dívida, o default spread, é um prémio que compensa o risco de conceder um empréstimo a uma empresa ou Estado e estes não pagarem a sua dívida.  

Noutras palavras, esta parte do custo da dívida representa a taxa de retorno que um banco ou outro investidor exige para o risco de não receber o seu dinheiro totalmente reembolsado. Numa situação dessas, dizemos que a empresa está em incumprimento (default) com o credor.

O que é um rating e como ajuda a calcular o custo da dívida?

Para medir o risco que se corre ao emprestar dinheiro a uma determinada entidade, existem duas maneiras distintas: o rendimento até ao vencimento (yield to maturity) e as notações de crédito, os chamados ratings. 

Um rating dá-nos uma informação simples sobre a capacidade de uma empresa ou de um Estado para cumprir as suas obrigações para com os credores. Essa informação é qualitativa e vem na forma de uma letra, atribuída por uma agência de rating:

Um exemplo de uma atribuição de rating aconteceu em julho de 2011, quando a agência Moody’s atribuiu a classificação Ba2 a Portugal. Este nível é considerado como “lixo”, algo que, pela nomenclatura invulgar, gerou polémica no nosso país. A consequência material desta classificação foi o facto de, nos meses seguintes, os juros da dívida pública a 10 anos estarem repetidamente acima de 10%, chegando a atingir uns impressionantes 16,42%.

Neste momento, o rating da dívida pública portuguesa está, de acordo com a Moody’s, em Baa2, o que faz com que os títulos de dívida nacionais sejam considerados como grau de investimento, e, portanto, acima de “lixo”. Quanto mais perto do triplo A, melhor é a capacidade de uma entidade de pagar as suas dívidas. Como Portugal apresentava, na altura da crise das dívidas soberanas, um nível de dívida muito alto, havia a preocupação junto dos investidores que o nosso país não fosse capaz de cumprir com os seus compromissos, daí o rating ser negativo.

Para atribuir um rating, as agências calculam vários índices financeiros que medem a capacidade de uma empresa ou de um Estado de honrar os seus pagamentos da dívida. De acordo com o Investopedia, alguns dos índices mais usados nas empresas ​​são a margem do EBIT e o índice de cobertura de juros. Já nos Estados, os índices são, por exemplo, o rácio do serviço da dívida e o rácio das importações. 

Por fim, a pergunta que se impõe é: como se pode extrair um número para usar no cálculo do custo da dívida, substituindo a letra que é fornecida pela agência? 

A melhor resposta a esta pergunta está no mercado. Os investidores, através do mercado de obrigações, comprando e vendendo os títulos de dívida, dão o preço de cada título que, por sua vez, reflete se uma obrigação é mais ou menos arriscada naquele momento. 

Com o facto de as dívidas públicas e privadas estarem a atingir recordes de dia para dia, aliado à promessa recente dos bancos centrais controlarem a inflação através de um possível aumento nas taxas de juro, será interessante constatar se as agências de rating terão um novo período de ribalta mediática, à medida que os receios dos investidores aumentam pela possibilidade de não cumprimento das dívidas.  

Autor: Francisco Castro Silva

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