O que é uma Recessão Económica? Serão estas inevitáveis?

Hoje em dia cada vez se fala mais numa possível recessão económica mas, afinal, o que é
uma recessão ao certo?

Antes de explorarmos esta questão, é necessário compreender em que consiste um ciclo
económico. Um ciclo económico remete, em suma, para as flutuações da atividade
económica. O ciclo contém períodos de crescimento/expansão económica e períodos de
estagnação ou contração económica.

Ora uma recessão é exatamente uma contração na atividade económica que se traduz
numa diminuição do nível de produção, aumento do desemprego, diminuição do rendimento disponível das famílias, entre outros.

Figura 1 – Ciclo económico

Existem, no fundo, três causas quando se trata de recessões:

  1. Asset Bubbles (Bolhas de Ativos)
  2. Black Swan Events (Eventos Cisne Negro)
  3. Overheated Market (Mercado sobreaquecido)

O que significa cada uma destas causas?

  1. Bolha de ativos

Uma bolha de ativos/bolha especulativa ocorre quando os ativos de um determinado setor
ou mesmo da economia como um todo, se desviam de forma significativa do seu valor
intrínseco.

Como exemplos de bolhas de ativos, temos a crise de 2000 e a crise de 2008.

A partir de 1994, as empresas tecnológicas começaram a ser cada vez mais procuradas por
investidores ao redor do mundo, sendo que essa procura incessante originou uma
tendência de alta enorme em empresas relacionadas com as novas tecnologias de
informação e comunicação. E, como se sabe, esse tipo de interesse súbito e desmedido
mais tarde ou mais cedo acabaria por dar mau resultado.

Foi exatamente o que aconteceu em 2000, na famosa crise de 2000 (mais conhecida por
dot-com bubble). A procura outrora existente rapidamente se transformou em dúvida e
medo, fazendo com que os investidores retirassem o seu capital dessas mesmas empresas. Tal retirada de capital resultou numa queda em espiral do setor tecnológico que levou com
ele muitos outros setores de atividade. Entre 2000 e 2003 o S&P500 registou perdas de
mais de 40% e o NASDAQ100 (índice tecnológico) perdas superiores a 75%.

Anos mais tarde, na tão conhecida crise financeira de 2008, a nova bolha de ativos
encontrava-se não no setor tecnológico, mas sim no setor imobiliário. Em 2008 deu-se o
“rebentar” da bolha no setor imobiliário que originou quedas no S&P500 a rondar os 45% e
quedas no NASDAQ100 a rondar os 40%.2

2. Cisnes Negros

Outra das possíveis causas para uma recessão são os eventos “cisnes negros”. Eventos
como a pandemia da COVID-19 ou o conflito entre a Rússia e a Ucrânia são exemplos de
eventos “cisnes negros” pautando-se pela sua imprevisibilidade e duração.

O impacto inesperado da pandemia originou uma recessão que se caracterizou pela queda
abrupta dos mercados a nível mundial, assim como por um aumento exponencial no
desemprego. Os efeitos nefastos da pandemia ainda se estavam a sentir no início deste
ano, quando o conflito entre a Rússia e a Ucrânia se agravou, tendo este vindo a
exponenciar e acelerar os efeitos negativos da pandemia.

3. Economia sobreaquecida

Uma economia sobreaquecida é caraterizada por uma baixa taxa de desemprego, ou seja,
existem poucas pessoas no fundo de desemprego à procura de trabalho (poucas pessoas
para trabalhar). Deste modo, as empresas vêm-se obrigadas a aumentar os salários ou a
oferecer mais benefícios aos trabalhadores, de forma a que os mesmos fiquem satisfeitos e
não se demitam, originando, assim, um aumento no seu rendimento disponível. Assim
sendo, as famílias irão aumentar o seu consumo originando um aumento da procura e,
como a oferta permanece constante, esse aumento irá, por sua vez, originar um aumento
dos preços (inflação).

Essa mesma inflação terá de ser contrabalanceada com um aumento das taxas de juro que
irá diminuir o consumo das famílias e, consequentemente, poderemos entrar numa
recessão.

E que indicadores podemos utilizar para tentar prever possíveis recessões?

1. Inverted Yield Curve

A inverted yield curve consiste, tal como o nome indica, numa curva das taxas de juro
invertida, ou seja, quando uma taxa de juro de período superior é inferior a uma taxa de juro
de período inferior.

Por exemplo, uma inverted yield curve acontece quando a taxa de juro das obrigações do
Estado a 10 anos é inferior à taxa de juro das obrigações do Estado a 2 anos.

Trata-se de uma situação anormal, visto que uma obrigação a 10 anos tem agregada muita
mais incerteza do que uma obrigação a 2 anos. Isto geralmente acontece quando se prevê
que a economia daqui a 10 anos esteja numa melhor posição do que está atualmente.

Segue abaixo o gráfico das taxas de juro das obrigações americanas e portuguesas com a
respetiva análise.

Figura 2 – Spread obrigações 10 anos vs 1 ano

Na figura 2 é-nos possível visualizar a diferença entre as taxas de juro das obrigações
americanas de 10 e 1 anos.

Ao analisarmos, compreendemos que, sempre que esta diferença foi negativa, houve uma
recessão. Em 1989 o spread foi negativo e em 1991 deu-se uma recessão; em meados de
2000 esta diferença foi negativa e em 2001 deu-se, novamente, uma recessão; por volta de
2005/2006 o spread foi negativo e em 2008 tivemos uma recessão; em 2019 o spread foi
negativo, tendo originado uma recessão em 2020, sendo que, neste momento, o spread é
de -0,179%, o que pode significar que estamos a caminhar para uma recessão.

Figura 3 – Taxas de juro das obrigações portuguesas

No gráfico acima, é-nos possível ver que a curva está normal, sendo que sempre que é
aumentado o período das obrigações, as taxas de juro sofrem, também, um aumento.

2. Índice de produção industrial

O índice de produção industrial remete para um índice mensal que ilustra o estado da
produção industrial de um país. Se o índice estiver acima de 50, o país está, na teoria, a
produzir “bem”. Porém, e mesmo estando acima dos 50, se os relatórios apresentados
forem cada vez mais baixos de mês para mês, poderá ser um sinal de que a produção
industrial está a abrandar. Tal abrandamento poderá significar, por sua vez, que estamos
prestes a entrar numa recessão, tal como podemos verificar no gráfico abaixo.

Abaixo seguem os gráficos americano e português com a respetiva análise.

Figura 4 – ISM Manufacturing Index americano num período de 5 anos

Neste gráfico compreende-se um claro desaceleramento da produção industrial americana
juntamente com uma aproximação cada vez mais evidente da marca dos 50.

Figura 5 – ISM Manufacturing Index americano num período de 50 anos

No gráfico acima, podemos analisar historicamente este mesmo índice. Ao realizar esta
análise, compreende-se que as grandes recessões que ocorreram nos últimos 50 anos
coincidiram com uma queda abrupta no índice de produção industrial.

Em 2000 o índice atingiu valores a rondar os 45; em 2008 atingiu valores a rondar os 35;
em 2020 atingiu valores a rondar os 40, e, neste momento, os valores rondam os 53, com
uma forte tendência de queda.

Figura 6 – Índice produção industrial em Portugal

Neste gráfico podemos ver uma clara queda em momentos de recessão, como foi o caso de
2009 e 2020. No início de 2022 deu-se uma pequena queda nos primeiros meses do ano.
Contudo, neste momento, os valores estão positivos e com aumentos na produção industrial
relativamente aos meses anteriores.

É de notar que, depois de alguns meses negativos, é, de certo modo, comum a existência
de relatórios com fortes aumentos, como podemos ver em meados de 2021, depois da
pandemia da COVID-19.

3. Confiança dos consumidores

A confiança dos consumidores é, por si só, um indicador bastante importante quando o
assunto são recessões, visto que ilustra as tendências de consumo dos consumidores,
neste caso, de Portugal. Valores negativos mostram-nos que os portugueses pensam em
consumir menos no futuro do que consomem atualmente e valores positivos que pensam
consumir mais no futuro.

Valores negativos mostram-nos que podemos estar perante um desaceleramento no
consumo das famílias e, consequentemente, da economia. Tal relação pode levar-nos a
entrar numa recessão.

Abaixo está o gráfico da confiança dos consumidores em Portugal.

Figura 7 – Confiança dos consumidores em Portugal nos últimos 12 meses

Neste gráfico podemos ver que, pelo menos durante os últimos 12 meses, os consumidores
estão muito pouco confiantes na economia e naquilo que os espera durante os próximos
meses/anos. Apesar de já nos encontrarmos em terreno negativo desde Julho 2021, em
Maio 2022 atingimos um valor recorde nos últimos 12 meses de -34,1.

Figura 8 – Confiança dos consumidores em Portugal nos últimos 25 anos

A partir deste gráfico mais abrangente vemos que os portugueses nunca se mostraram
muito otimistas quanto à economia portuguesa, tendo atingido valores recorde de quase -50
em meados de 2012/2013 (período da TROIKA em Portugal). Uns anos mais tarde, em
2020, voltámos a apresentar valores a rondar os -40, sendo que, neste momento, estamos
um pouco abaixo dos -30, o que mostra um pessimismo por parte dos portugueses que vale
a pena notar.

Conclusão

É de notar que as recessões são inevitáveis visto que, como vimos no início deste artigo, a
economia funciona por ciclos e irão sempre haver ciclos de expansão económica e ciclos de
contração/recessão económica.

E o que poderá ser feito para combater estas inevitáveis recessões?

O que tanto a FED (Reserva Federal Americana) como o BCE (Banco Central Europeu)
podem fazer é aumentar as taxas de juro até encontrarem o equilíbrio onde a inflação deixa
de subir. Tal aumento deve ser gradual, de modo a não impactar demasiado os
consumidores. No entanto, um aumento demasiado lento, irá permitir que a inflação
continue a aumentar durante vários meses e, o oposto, ou seja, um aumento demasiado
rápido, irá afetar imenso as famílias e poderá originar uma crise pior do que a recessão que
se estava a tentar resolver. Assim, pelas razões previamente mencionadas, encontrar esse
equilíbrio é uma tarefa não só crucial, como também bastante complicada.

As recessões são, deste modo, algo que devemos esperar de X em X anos, visto que, como
é natural, a máquina económica não é perfeita, sendo que irão sempre existir desequilíbrios
e imprevistos que poderão levar a recessões.

Com isto, não quero dizer que devemos viver constantemente no medo e a poupar cada
cêntimo, quero sim dizer que, quem se previne e está preparado quando tais eventos
acontecem, consegue sair beneficiado de um evento bastante negativo.

“As sure as the spring will follow the winter, prosperity and economic growth will follow
recession.” – Bo Bennett

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