Obrigações, inflação e taxas de juro – qual a correlação?

Inflação e taxas de juro, dois temas bastante debatidos nos últimos meses, juntamente com o aumento significativo das yields das obrigações, para os mais atentos aos mercados. Mas qual a relação entre os três e quais os motivos?

Começando pela inflação que tem sido notória em todos os setores, especialmente alimentar, desde há uns meses para cá, tendo já ultrapassado os 8% nos Estados Unidos da América, atingindo máximos históricos dos últimos 40 anos, e os 5% na europa.

Muito se deve da guerra na Ucrânia, especialmente na Europa, mas não só, aliás, antes de toda a situação se ter desenrolado, já a inflação estava a atingir valores alarmantes, principalmente devido ao exponencial aumento dos ativos no balanço da Reserva Federal dos EUA desde o início da pandemia, à excessiva impressão de dinheiro que havia vindo a ser feita pela mesma e pelo excesso de estímulos entregues aos cidadãos, que é lógico e fácil de perceber o porquê de tais fatores contribuírem para o aumento da inflação, sendo que com mais dinheiro em circulação este perde valor. 

E agora vem a questão, como “combater”, ou melhor, controlar e manter a inflação nos valores pretendidos? 

O mais lógico e conhecido método é com o aumento das taxas de juro, que até há umas semanas atrás tinha vindo a tentar ser evitado ao máximo pela FED devido às repercussões que poderia e pode vir a ter na economia, principalmente na medida em que irá ficar “mais caro” para as empresas e para as pessoas se financiarem através de capitais alheios, seja em créditos à habitação ou simplesmente empréstimos bancários às empresas.

É então aqui que a inflação e as taxas de juro se relacionam, uma elevada inflação irá, à partida, levar a um aumento das taxas de juro para que a mesma seja reduzida, pois com taxas de juro mais elevadas, o financiamento é mais caro e as pessoas, eventualmente, vão consumir/gastar menos, logo a procura diminui, o que leva também a uma diminuição da inflação. É, portanto, assim que os Bancos Centrais reduzem a inflação, ainda que possa causar recessões económicas.

A um aumento das taxas de juro vem imediatamente associada uma redução nos preços das obrigações, ambos os fatores se relacionam inversamente, logo uma situação contrária levaria a um aumento dos preços destas.

Isto deve-se ao facto de o preço das obrigações em mercado secundário funcionar de uma maneira um pouco peculiar, por exemplo, se a Euribor a 3 meses estiver cotada a 98 quer dizer que a sua yield é de 2%, logo se o preço baixar devido a um aumento das taxas de juro (por exemplo, para 96, onde a yield seria de 4%) a yield vai aumentar e os investidores terão um maior retorno.

Prevalece ainda a questão do porquê de um aumento das taxas de juro aumentar também a rentabilidade das obrigações, que é fácil de explicar através de um exemplo: Imagine-se que temos uma obrigação com vencimento a 2 anos, por exemplo, com um cupão anual de 10% e onde a taxa de juro atual é de 7%. Passados uns meses, caso a taxa de juro suba para 15%, se eu quiser vender a minha obrigação, não esquecendo que os seus termos e condições prevalecem, ou seja, eu continuaria a receber um cupão apenas de 10%, teria assim logicamente de baixar o preço da mesma ajustando ao aumento da taxa de juro para que outros investidores a comprassem (em prática a rentabilidade da obrigação teria de passar a ser mais de 15%, se eu a pretendesse vender a alguém), senão mais valia simplesmente aplicarem o seu capital num depósito a prazo onde o risco é praticamente inexistente.

 Numa situação contrária aconteceria o inverso, imagine-se então que a taxa de juro em vez de ter subido, tinha descido para 4%, nestas condições se eu quiser vender a minha obrigação a outro investidor posso vendê-la a um preço mais caro, logo com uma yield menor, do que poderia quando a taxa de juro estava a 7%, pois os investidores agora estão dispostos a aceitar um menor retorno do que estavam quando a taxa de juro era mais elevada.

Usando agora números para clarificar, imagine-se novamente uma obrigação de 100€ e cupão 10% (ou seja, 10€/ano), se a taxa de juro estiver a 4%, eu consigo vender a obrigação a 105€ porque mesmo assim o investidor ainda teria uma rentabilidade de 5%, comparada com os 4% se aplicasse num depósito a prazo. Por outro lado, se a taxa de juro subisse para 8%, eu teria de baixar o preço a que pretendo vender a obrigação para, por exemplo 101€ dando assim uma rentabilidade de 9% ao investidor comparada com os 8% de um depósito a prazo.

Resumindo, se a obrigação oferecer uma rentabilidade inferior à taxa de juro não faz qualquer sentido investir na mesma sendo que possui mais risco do que um depósito a prazo, e como um decréscimo do seu preço aumenta a yield, um aumento da taxa de juro significa uma redução do preço das obrigações, e um aumento da inflação levará a um eventual aumento das taxas de juro, sendo assim explicada a relação entre os três.

Autor: Rafael Ferreira

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