Estes são os 5 indicadores que deves analisar num ETF

O mundo dos investimentos continua a parecer, por vezes, algo demasiado complexo e inalcançável para a maioria das pessoas. No entanto a verdade está muito longe de ser esta e é importante conseguir desmistificar esta ideia rapidamente para que os portugueses comecem, o quanto antes, a explorar este tópico e a começarem as suas carreiras de investimento.

Os fundos de investimento ou, mais especificamente, os ETF são, a meu ver, uma das formas mais simples de começar a investir não só pela facilidade em termos de análise, mas também pela diversificação natural que trazem à nossa carteira de investimentos. Neste artigo vamos então falar sobre este tema e sobre cinco pontos que, a meu ver, são dos mais importantes de analisar quando tomamos a decisão de investir em ETF.

O que é um ETF?

Falarmos sobre detalhes e análise de ETF sem esclarecer, em primeiro lugar, o que é um ETF seria, em bom português, “pôr o carro à frente dos bois”, ainda para mais quando Portugal está no último lugar de literacia financeira na Europa.

Um ETF (Exchange-Traded Fund) é, em boa verdade, um fundo de investimento transacionado em bolsa. Então e o que é um “fundo de investimento”? Isso sim, teremos de explicar com mais detalhe para que depois aquele pormenor do ser transacionado em bolsa faça seja apenas isso, um pormenor.

Para comprar e vender um ETF, precisa de um intermediário financeiro, um banco ou uma corretora. Logo, terá de abrir uma conta de valores mobiliários junto da instituição que escolher, na qual as suas ações serão depositadas. Se quiser saber mais sobre as principais corretoras em Portugal, podes fazê-lo em Degiro XTB.

Um fundo de investimento é um cabaz de produtos, a chamada “política de investimento”, nos quais investimos quando colocamos dinheiro nesse fundo ou, tecnicamente falando, quando compramos unidades de participação nesse fundo. 

A explicação que costumo partilhar para explicar um fundo de investimento é imaginar que estamos numa pastelaria e que nos chegamos à frente para ver a montra de bolos. Nessa montra vemos um determinado bolo que nos parece ter bom aspeto e então perguntamos à pessoa da pastelaria “o que leva” aquele bolo e essa pessoa, amavelmente, diz-nos quais os ingredientes que leva e como é feito. Com base nessa informação, tomamos a nossa decisão de comer, ou não, aquele bolo, certo? Se a explicação da pessoa nos agradar, então optamos por comprar uma fatia daquele bolo. Se, por outro lado, a explicação revelar que aquele bolo não nos agrada, então olhamos para outro ou então saímos da pastelaria.

Vamos então mudar os termos. Vamos alterar “pastelaria” para “mercado financeiro”, “bolos” para “fundos de investimento”, “ingredientes” para “política de investimento” e “fatia” para “unidades de participação”. Então ficamos com o quê? Um mercado financeiro que nos disponibiliza vários fundos de investimento e ao consultar as suas políticas de investimento decidimos se compramos, ou não, unidades de participação desse fundo. É realmente muito simples, certo?

Tal como há bolos para todos os gostos também há fundos de investimento. Quaisquer que sejam os nossos gostos e o tamanho da nossa carteira, vamos certamente encontrar um fundo de investimento que nos agrade e no qual vamos querer investir.

Então e a questão do “transacionado em bolsa” que falamos? Bem, isso é, realmente um pormenor. Enquanto os fundos de investimento, ditos, tradicionais são comprados e vendidos diretamente às entidades que os gerem, os ETF são comprados e vendidos na bolsa de valores entre investidores. Tal como as ações, por exemplo, nós compramos unidades de participação a outro investidor que as queira vender, e vice-versa. Claro que existe uma entidade que gere o ETF, mas ela não é envolvida nestas transações.

Os indicadores

A análise de ETF, ou de fundos de investimento no geral, é bastante mais simples do que analisar, por exemplo, ações individuais e, por isso, o investimento neste tipo de produtos é visto com muito bons olhos para investidores iniciantes ou aqueles que não querem despender muito tempo a analisar os seus investimentos e a acompanhá-los ativamente.

Ainda assim, há alguma análise a fazer para garantir que entendemos totalmente o investimento que estamos a fazer.

Neste artigo vou partilhar 5 tópicos que são, a meu ver, dos mais importantes para uma análise minimamente fundamentada. No entanto, quero reforçar a mensagem que a análise de um investimento deve ser bastante mais aprofundada para conseguirmos garantir o aspeto mais importante de qualquer investimento: compreender totalmente onde estamos a investir.

Política de investimento

O primeiro ponto é a política de investimento, os tais “ingredientes” que falamos há pouco naquela explicação da pastelaria. Por vezes também aparece referenciada como “estratégia de investimento” é a mesma coisa.

Esta política, ou estratégia, de investimento vai mostrar-nos exatamente onde estamos a colocar o nosso dinheiro, já que um fundo de investimento pode ter dezenas, ou até centenas, de ativos diferentes englobados dentro do mesmo fundo. É neste documento que sabemos exatamente coisas como a percentagem alocada às diferentes classes de ativos (ações, obrigações, etc.), quais as maiores posições dentro do fundo e qual é, de forma genérica, a estratégia de investimento do próprio fundo. 

Ao analisarmos tudo isto, vamos ter a resposta à primeira pergunta que todos nós devemos fazer quando investimentos em algo: “isto faz sentido para mim”? Se fizer sentido, seguimos em frente com a análise. Se acharmos que não é para nós, partimos para outra.

Dimensão do fundo

A dimensão do fundo mostra a quantidade total de dinheiro investido nele, ou seja, a quantidade de dinheiro disponível no fundo para ser gerido pela entidade gestora.

Na nossa análise, devemos apontar sempre para fundos de grande dimensão, na verdade, da maior dimensão possível, já que isso é um bom indicador de duas coisas: confiança e liquidez. A parte da confiança é importante porque se há vários milhões ou até milhares de milhões investidos no fundo, significa que, à partida, é um fundo onde vários investidores viram valor e optaram por investir o seu dinheiro. Claro que isto, por si, não é suficiente para investirmos também mas pode ser um indicador. A segunda parte, a da liquidez, significa que teremos facilidade em comprar e vender as unidades de participação deste fundo. Lembram-se de termos falado que os ETF são comprados e vendidos entre investidores? Se tivermos muitos investidores interessados num determinado fundo, então a hipótese de encontrarmos um comprador ou vendedor para fazer o negócio connosco aumenta. Se for um fundo de menor dimensão, poderemos ter dificuldade em comprar ou vender quando quisermos.

Política de distribuição de ganhos

Quando fazemos um investimento será, em primeiro lugar, com o objetivo de termos algum lucro com ele. No caso dos fundos de investimento, o que se espera é que os ativos dentro dele gerem esse lucro para que, por sua vez, o fundo também gere esse lucro para os seus investidores e existem duas formas de tratar esses lucros: acumulando ou distribuindo.

No primeiro caso, a acumulação, o fundo reinveste automaticamente os lucros gerados para que o seu valor continue a aumentar. Um exemplo prático. Se tivermos 1000€ investidos e forem gerados 10€ de lucro, passamos a ter 1010€ investidos, e isto sem colocar qualquer dinheiro novo no investimento. Incrível, certo? O nosso investimento aumenta sem colocar qualquer dinheiro nosso. No entanto, e porque não pode ser tudo bom, na verdade é um ganho “teórico” já que não recebemos efetivamente nada na nossa conta bancária. Apenas temos uma qualquer plataforma que nos diz que aquele investimento agora vale 1010€. No caso dos produtos de acumulação, apenas confirmamos e realizamos o ganho, ou a perda, quando vendemos a nossa participação.

A outra opção é a distribuição. Nestes casos, o lucro gerado pelo nosso investimento é-nos efetivamente pago para a nossa conta para fazermos o que quisermos com ele. Pegando no mesmo exemplo, os nossos 1000€ investidos continuam a ser 1000€ investidos, mas eu recebo efetivamente na minha conta os tais 10€ do lucro. Parece melhor, certo? Faltam aqui dois pontos na decisão: impostos e o efeito juro composto. Sempre que recebemos lucro dos nossos investimentos temos de pagar, regra geral, 28% em IRS, por isso os nossos 10€ seriam na verdade 7,20€. Na primeira opção, a da acumulação, como não recebemos efetivamente nada, só iremos pagar os 28% quando vendermos o investimento. A segunda parte é o efeito de juro composto que, neste caso, se perde. Como vimos, no caso da acumulação o nosso investimento vale mais sem colocar dinheiro novo e irá continuar a crescer a partir daí. No caso da distribuição, o valor do nosso investimento é sempre igual e só cresce colocando mais dinheiro nosso.

Rentabilidade histórica

Uma outra máxima do mundo dos investimentos diz que “rentabilidades passadas não são garantias de rentabilidades futuras” e isso está 100% certo. No entanto, analisar o histórico de um determinado investimento pode ser um bom indicador sobre o seu possível comportamento futuro. Se um determinado investimento tem tido bons resultados médios ao longo de 15 ou 20 anos, a probabilidade de correr bem nos próximos é maior do que se for um com um comportamento mais instável ou até com menos histórico.

Todos os investimentos têm alturas boas e alturas menos boas e, por isso, devemos olhar para o maior prazo possível e encontrar uma média de rentabilidade nesse histórico e que esteja alinhada com o tipo de ativo que estamos a analisar.

TER (Total Expense Ratio)

As comissões, de uma forma geral, são algo que todos devemos evitar em tudo o que fazemos financeiramente e no caso dos ETF não é exceção. Claro que as entidades gestoras têm o seu negócio e têm de ganhar alguma coisa com o trabalho que têm na gestão dos seus fundos de investimento, mas devemos tentar minimizar este custo e procurar as comissões mais baixas possível.

No caso dos ETF, devemos ter atenção ao TER (Total Expense Ratio) que nos indica, qual é a percentagem que nos vai ser “retirada” como comissão de gestão. Atenção que esta comissão fica automaticamente diluída nos resultados do investimento e nunca nos é, efetivamente, cobrada, mas sendo algo que vai retirar valor ao nosso investimento, queremos que seja o mais baixa possível, claro.

Conclusão

Neste artigo, falamos de 5 pontos que são essenciais dominar para entendermos minimamente o investimento que estamos a fazer mas há muito mais para explorar neste tema, por isso disponibilizo aqui uma Masterclass em vídeo de, sensivelmente, uma hora, onde vamos a todos os detalhes para começar a investir em ETF de forma totalmente informada e consciente.

Os ETF são produtos, na minha opinião, muito adequados para quem quer investir, mas tem pouco capital, pouco tempo ou pouco conhecimento, mas que, ainda assim, quer entrar neste mundo e começar a rentabilizar melhor as suas poupanças.

No entanto, é importante ter em consideração que os ETF não são produtos de rentabilidade garantida e que, por isso, acarretam riscos de perda de capital, por isso devem ser incluídos na nossa estratégia de investimento de forma consciente e enquadrada de aquilo que são os nossos objetivos financeiros.

Disclaimer

Este artigo reflete apenas a minha opinião enquanto educador financeiro e investidor e não deve ser entendido como nenhum tipo de recomendação de investimento em ETF, fundos de investimento, ou qualquer outro produto de forma genérica.

Termos um Portugal financeiramente mais culto inclui também que cada um de nós tome as suas próprias decisões financeiras de forma totalmente consciente e informada.