Citando o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, “para as pessoas por todo o mundo, a guerra, juntamente com outras crises ameaça despoletar as ondas da fome e destituição, provocando caos social e económico”.
É de se relembrar que as Nações Unidas estimam que cerca de 811 milhões de pessoas, que constituem cerca de 10% da população global, enfrentaram a fome no ano de 2020. Muitas devido a razões como:
– o impacto económico da pandemia COVID-19;
– problemas resultantes da cadeia de abastecimento;
– diminuição da produção agrícola devido a condições meteorológicas extremas;
– conflitos em curso em todo o mundo.
Como se caracteriza a situação atual?
Focando no impacto causado pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia, não podemos menosprezar a importância do celeiro da Europa. Antes da guerra, cerca de 10% do trigo em todo o mundo e quase metade do óleo de girassol em todo o mundo vinha do país assim chamado «celeiro da Europa», a Ucrânia.
Neste momento contudo, contemplamos uma situação onde o setor agrícola ucraniano se encontra danificado de forma inigualável desde Segunda Grande Guerra e onde o governo ucraniano acusa a Federação Russa de deliberadamente ter como alvo o setor agrícola ucraniano, de forma a poder causar uma crise à escala global no setor alimentar.
Que consequências observamos?
A maioria das exportações de grão da Ucrânia são normalmente transportadas através do Mar Negro. Acontece que com o bloqueio de portas por parte da Federação Russa, estima-se que mais de 20 milhões de toneladas de cereais estão atualmente presas em redor de Odessa. A Federação Russa afirma que se encontrava aberta a estabelecer corredores de cereais, porém o governo ucraniano receia que tais corredores possam ser usados para atacar.
Contudo, uma pequena percentagem de grão tem sido exportada através da Polónia e da Roménia. Mesmo com a vertente da logística numa fase difícil, verifica-se uma pequena percentagem de grão que consegue ser exportada. Entretanto, aproxima-se um cenário complicado para a indústria agrícola ucraniana, considerando que o tempo está a esgotar-se e existe pouco espaço de armazenamento disponível para a próxima colheita da Ucrânia a partir do final de julho.
Consequentemente, há a preocupação de que os preços dos produtos alimentares aumentem a fome em todo o mundo. Para a Europa, com as taxas de juro altas, com um elevado preço da energia e agora com um aumento no preço do trigo, onde já se encontra uma economia com considerável condicionamento, que mais podem os europeus esperar futuramente?
Autor: Pedro Costa