The Boeing Company ($BA) é uma empresa muito conhecida no mundo da aviação. A gigante norte-americana baseada em Chicago nasceu quando o empresário William Boeing comprou uma empresa já existente, a Pacific Aero Products Co., por 100 mil dólares em 1916. Um ano depois, Boeing decidiu renomear a empresa para o nome atual. O fascínio pela aviação era forte no início do século XX, tendo o primeiro voo tripulado ocorrido em 1903 pelos irmãos Wright. Boeing rapidamente se apercebeu da importância destes veículos e de como capitalizar a oportunidade.
Com mais de 100 anos de atividade, a Boeing tornou-se numa empresa estratégica para os EUA, empregando mais de 140 mil trabalhadores. Não só produz vários modelos de aviões comerciais, como também está muito envolvida na produção de veículos aéreos para o exército e para missões espaciais. A ligação que tem com o governo dos EUA torna-a na única empresa relevante na produção de veículos aéreos comerciais e de defesa nos EUA. Em contrapartida, a Europa também tem a sua “empresa bandeira” neste setor, sendo esta a Airbus ($AIR.PA). Ambas as empresas formam um sistema semelhante a um duopólio por serem as únicas empresas que prestam este tipo de serviços.
Com a pandemia de Covid-19, este setor foi gravemente afetado. Com as viagens internacionais canceladas e quase inexistentes durante um período de tempo bastante alargado, a procura por aviões comerciais diminuiu para valores quase nulos. O futuro da aviação tem por isso sido o centro de debates. Será que o setor continuará a ser relevante para os investidores após a pandemia?
Segundo um artigo do website World Economy Forum, a explosão do comércio eletrónico está a pressionar as companhias de aviação a adaptar os aviões de passageiros, agora com muito menos procura, para aviões de carga. O futuro da aviação poderá então passar por uma redução drástica dos voos de passageiros, mas seguido de um igualmente drástico aumento dos voos de carga, sendo um argumento para o balanceamento do setor e a sua contínua relevância para os investidores. Por outro lado, grandes investidores, com o cabeça-de-cartaz sendo Warren Buffett, deixaram de investir em empresas de aviação no início de 2020. Como tal, diante de vários argumentos contrários e válidos, apenas o futuro irá ditar os próximos passos deste setor.
O atual CEO da Boeing é David Calhoun. Natural do estado da Pensilvânia, com 64 anos, Calhoun é um homem de família com 4 filhos, escritor com uma publicação em seu nome do livro “How companies win” e é um ávido golfista e esquiador nos tempos livres. Subiu ao cargo de CEO da Boeing em Janeiro de 2020, tendo pertencido ao painel de diretores da mesma desde 2009. Foi licenciado em contabilidade pela Virginia Tech, tendo seguido cargos de gestão ao longo da sua carreira. Anteriormente à sua posição na Boeing, Calhoun trabalhou durante 26 anos na General Electrics ($GE), tendo também chegado a CEO da empresa e gerido a mesma durante a crise após o 11 de Setembro de 2001. Graças a essa experiência de gestão sobre pressão, Calhoun é conhecido por ter um estilo de liderança de “mente dura”. Esta experiência poderá ser fundamental para a Boeing, já que Calhoun passou a CEO precisamente na altura de maior caos causado pela pandemia.
Identificação do “Moat”
Como já foi dito anteriormente, a Boeing é a única empresa na América do Norte relevante na produção de aviões, apenas com concorrência relativamente semelhante por parte da Airbus. Este facto é um bom indicador de um forte “Moat”, juntamente com as ligações e “simbiose” com os governo dos EUA. Para confirmar a existência deste “Moat” deve-se fazer um estudo de alguns parâmetros contabilísticos. Na seguinte tabela estão resumidos as taxas de crescimento dos referidos parâmetros, como exemplificado na publicação “Como conseguir identificar um forte Moat” (em percentagem):
Calculando as médias a 10 e 3 anos para cada parâmetro ficamos com:
Como se pode verificar existe um declínio acentuado nos últimos anos de todos os parâmetros. Apenas o Retorno do Capital Investido (ROIC) está acima dos 10%, o valor mínimo ideal para cada um dos parâmetros. Isto deve-se claramente ao impacto da pandemia, uma vez que só se observam números negativos (mais relevantes) a partir de 2019.
Durante os tempos de pandemia, o setor da aviação foi muito afetado, pelo que os cálculos do valor intrínseco da Boeing não são coerentes. Não é possível por este método ter uma estimativa satisfatória do futuro valor da empresa, apesar de esta ser considerada uma “empresa bandeira” dos EUA no setor da aviação. Por ser uma empresa estratégica, deverá continuar a ter muito apoio por parte do estado norte-americano, mas esta possibilidade, mesmo que se venha a verificar, não retira o peso da imprevisibilidade para os investidores.
Autor: André Azevedo