Efeitos da inflação: iPhone 13 vs. Setor alimentar

Os célebres telemóveis iPhone não estão a aumentar de preço, mas “não se pode comer um iPad”.

No meio de tanta discussão, foi finalmente lançado o novo iPhone 13, que arrecadou uma quantidade considerável de críticas no que toca à falta de originalidade relativamente aos modelos anteriores por parte da Apple ($AAPL).

Jon Fortt da CNBC reparou, de forma astuta, que a empresa manteve os preços de lançamento do iPhone 13 inalterados aos do seu antecessor iPhone 12, o que torna o iPhone “à prova de inflação”. Fortt sublinha uma combinação entre sacrifício a curto prazo, subsídios de transporte e engenharia de topo que a Apple tem para oferecer, que consegue atualmente oferecer ao consumidor uma quebra inesperada no preço para atualizar o seu modelo de iPhone. 

Esta questão relembra-nos que, no mundo pré COVID-19, os avanços tecnológicos, nomeadamente produtos como o iPhone, tinham um papel determinante na otimização da produtividade e no controlo da inflação. No entanto, independentemente do raciocínio que o CEO Tim Cook esteja a ter atualmente, a Apple está a desafiar uma tendência que tem vindo a asfixiar os consumidores nos quatro cantos do mundo: os preços estão a subir e não há sinais de quebra. 

A prova disso é o discreto, mas determinante aumento do preço dos produtos alimentares.

A Bloomberg apontou o problema num relatório, que mostrou através de dados norte americanos que a inflação na indústria alimentar aumentou 31% entre julho de 2020 e o mesmo mês de 2021. O objetivo era também alertar os leitores para a forma como manifestações civis, devido ao aumento do preço dos alimentos, foi um dos causadores dos protestos da Primavera Árabe em 2011. 

De acordo com a DataTrek Research, os preços dos alimentos nos EUA subiram 8% nos últimos dois anos, liderados por produtos proteicos básicos diários como carnes, aves, peixe e ovos.

“Enquanto a inflação da proteína é volátil, o padrão normal é uma subida rápida seguida de um decréscimo subsequente” disse Nicholas Colas, co-fundador da DataTrek Research. “Tivemos dois períodos de aumento no passado recente (2020, 2021), mas ainda não houve declínio”.

Inserido neste problema está o facto de os Estados Unidos da América importarem significativamente mais produtos alimentares do que o que exportam. Até neste campo se tem registado inflação- os dados de preços de importação em agosto mostram que o preço da comida subiu 0,6% de mês para mês e 10% de ano para ano.

Estimando que os preços de importação sobem 10% quando os preços de transporte duplicam, Simon MacAdams da Capital Economics afirma que “dado que os custos de transporte marítimo nunca tinham tomado valores tão elevados como os que tem havido no último ano, o desfecho desta história é difícil de prever”.

Apesar de os efeitos a longo prazo serem desconhecidos, MacAdam nota que “se se esperasse que os custos de transporte caíssem em breve, os importadores poderiam ficar confortáveis à espera que os custos se normalizassem e evitariam o aumento dos preços”. No entanto, isto não é o cenário mais provável e o mais expectável é que os preços não baixem tão cedo.

Tudo isto nos traz de volta ao curioso caso da Apple e a uma analogia particularmente relevante. 

Em 2011, o então Presidente da Reserva Federal de Nova Iorque, William Dudley, numa tentativa de alertar os consumidores acerca do aumento do preço dos produtos alimentares, disse que o mais recente iPad, na altura, custava o mesmo que a versão anterior, sendo uma razão para “se estar atento ao preço de tudo”. 

Como se pode imaginar, esta analogia foi mal feita, principalmente devido à indignação do público de classe média, que expressou uma ideia que ficou famosa: “mas não se pode comer um iPad”. 

Autor: Gil Neto 

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