A gigante chinesa de serviços de transporte privado, Didi Chuxing ($DIDI), perdeu um quinto do seu valor de mercado após a Administração do Ciberespaço da China (ACC) ter anunciado uma investigação contra a sua ride-hailing app (género da Uber app) por riscos à segurança de dados dos usuários.
A ACC proibiu a inscrição de novos utilizadores e mandou retirar a sua app das appstore, tendo também aberto investigações sobre duas outras empresas chinesas que recentemente foram listadas nos EUA.
A Didi é uma das maiores plataformas de transporte da China, atualmente com mais de 493 milhões de utilizadores ativos (anuais), e opera em média 41 milhões de transações diárias. A empresa teve em 2020 uma receita de 21,6 mil milhões de dólares, mas um prejuízo líquido de 1,6 mil milhões de dólares.
A notícia chegou poucos dias após a IPO (oferta pública inicial, traduzido em português) da Didi na bolsa de valores de Nova Iorque. O preço das ações caiu 5% na passada sexta-feira e mais 25% terça-feira, após o feriado de 4 de julho.
O comunicado, que pedia o estabelecimento de um “sistema de aplicação extraterritorial das leis do mercado de capitais (da China)”, aconteceu no momento que a China entra em conflitos com os reguladores da SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) sobre o “desejo” de ter acesso aos arquivos de auditoria de empresas chinesas que estão listadas nos EUA.
Apesar de algumas fontes terem reconhecido que a Didi tinha sido aconselhada pela ACC a adiar a listagem até ser feita uma revisão dos dados de segurança, a empresa nega o conhecimento da intervenção dos reguladores antes da sua IPO e afirma não ter compartilhado nenhum dado confidencial com os reguladores dos EUA.
No entanto, em comunicado à imprensa, Didi afirma que “se esforçará para corrigir quaisquer problemas, melhorar sua consciência de prevenção de riscos e seus recursos tecnológicos, proteger a privacidade dos usuários e a segurança dos dados, e continuar a fornecer serviços seguros”.
Tudo isto fez questionar as pessoas sobre se Pequim tem alguma coisa contra a Big Tech por ter decidido ir para os EUA fazer a sua IPO. A empresa e os bancos envolvidos na listagem tinham a luz verde de advogados chineses de que estava tudo “totalmente em conformidade”, afirma um executivo de um dos bancos de Wall Street que controlava o processo.
Didi optou por Nova Iorque ao invés de Hong Kong porque grande número dos seus motoristas sem licenciatura não cumpriam com os regulamentos e pré-requisitos de Hong Kong.
De acordo com o Financial Times, os reguladores chineses não tinham qualquer tipo de autoridade legal para impedir o processo de listagem da empresa no exterior. Esta extensa investigação de segurança de dados e a consequente proibição da app era mais uma “punição” por ignorar os avisos regulatórios sobre o uso de Hong Kong como o local de listagem.
Os bancos de investimentos que têm arrecadado taxas recordes em listagem de empresas chinesas nos EUA mostram-se preocupados que esta pressão regulatória possa “sufocar” novas IPOs. “Este é agora um fator de risco incomensurável, imprevisível e impossível de navegar”, afirma um executivo de um banco de Wall Street.
No entanto, “os chineses ainda farão IPOs nos EUA, se puderem”, disse o chefe de mercado de capitais de um banco americano. “Eles têm medo de ser forçados a fazer um IPO em Xangai e assim, não conseguirem tirar dinheiro da China.”
Autor: Margarida Fernandes