Delayed gratification: a arte de saber esperar

Vivemos no tempo do agora: queres encomendar comida? Vais a uma app, escolhes o que queres comer, carregas num botão e já está! Apetece-te ver uma série? Vais à tua smart TV, escolhes o que queres ver, pressionas o botão e está feito! Apetece-te receber reconhecimento ou atenção? Entras numa rede social, colocas um post bonito e um hashtag popular e voit la! Quase tudo o que queremos e precisamos está disponível aqui e agora. Tornamo-nos cada vez mais imediatistas, habituados a ter o que queremos, onde queremos, como queremos – agora! Entramos, cada vez mais, numa espiral de “preguiça”. 

E isto, caros leitores, é algo que vai criar problemas profundos e densos, difíceis de ultrapassar. Torna-se cada vez mais comum que crianças e jovens não saibam o significado de: “Não, tens que esperar!”. De forma geral, desconhecemos a ideia de delayed gratification, ou seja, saber esperar e conseguir atrasar o prazer de ter algo no imediato para receber mais tarde e com maior entusiasmo alguma recompensa. Essa falta de vivência do “Agora não pode ser, espera um pouco!” reforça a frustração, alimenta sintomas e causa revolta! Isto porque não estamos cientes de que, na vida, nem tudo está à distância de um simples click.

Se ajudar para compreender o fenómeno, pensemos que para se gerar uma vida no ventre de uma mulher são precisos aproximadamente 9 meses, e não há como apressar – a anatomofisiologia assim o exige.

O que é que os investimentos têm a ver com saber esperar?

Tudo! O sucesso nos investimentos, na minha opinião, culmina no FIRE – Financial Independence Retire Early – e, para o atingirmos, o maior segredo é a 8ª maravilha do mundo – os juros compostos (para citar Warren Buffett). 

Ora, os juros compostos começam a dar retornos pequenos, mas, à medida que o tempo passa, têm um efeito de bola de neve, que é o mesmo que dizer que aumentam substancialmente com o passar do tempo. E é aqui que percebemos a importância do conceito de delayed gratification – se não formos disciplinados quando colocamos o nosso dinheiro a render, vamos retirá-lo do investimento assim que a soma desse dinheiro e os seus juros nos permitam comprar o último smartphone da moda. Mas, se soubermos atrasar o prazer dessa conquista vamos, no futuro, conseguir não só o Iphone, mas quem sabe o carro, a casa ou qualquer outro objetivo que estabelecemos como meta. Tudo depende do tempo e do sacrifício que estamos dispostos a fazer. Por norma, quanto maior o sacrifício, maior será a recompensa. 

Se pensarmos bem, aquilo que nos dá maior prazer é o processo, não o resultado final em si. Quando lutamos muito por algo e estamos quase a atingi-lo, o maior entusiasmo vem da aproximação final ao objetivo e não depois da conquista em si! O ser humano depressa desvaloriza o que tem, seja um novo smartphone, um carro ou até uma mansão com vista para o mar. 

Por isso, atrasar a gratificação e o prazer de conquistarmos algo agora vai aumentar a nossa sensação de euforia e prolongar esse prazer que é tão efémero no futuro. Não é fácil, muitos preferirão a velha máxima do carpe diem, mas se fosse fácil toda a gente teria liberdade financeiramente.

Deixo-vos aqui com uma metáfora usada por Thad Shunkwiler: antigamente quando alguém gostava de uma música no antigo vinil, tinha que deixar tocar e ouvir todas as músicas antes do seu hit favorito; mais tarde, com a cassete, já era possível acelerar o processo e com a chegada do CD ainda mais fácil se tornou ouvirmos “A” música; hoje em dia, ainda mais imediato é: basta escrever o nome da música que queremos numa dessas plataformas para o efeito e é imediato!

Conclusão

Apesar de estarmos habituados a tudo no imediato, devemos aprender que na vida, para atingirmos algo bom, por vezes temos que passar por vários obstáculos e provações menos agradáveis, mas que valerá sempre a pena esperar para chegarmos aos hits da vida.

 

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