Crise energética na China ameaça crescimento

A economia Chinesa cresceu 4,9% no terceiro trimestre de 2021, em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo os dados do governo chinês. A Bloomberg referiu que um abrandamento do crescimento já seria esperado dada a base de comparação superior do último ano. No entanto, os economistas não previam uma desaceleração tão violenta, pois trata-se de um valor que está abaixo do típico crescimento acima de 5% pré-pandemia: 

Fonte: Statista

Esta desilusão da superpotência asiática assenta em várias razões fundamentais.
A primeira, e mais comentada, trata-se da crise no imobiliário, protagonizada pelo gigante Grupo Evergrande ($3333.HK), que ameaça estender-se ao resto do setor. Este é um problema de dívida que preocupa o governo de Pequim e que reforça a necessidade da imposição de restrições a empréstimos ao setor da construção, de acordo com o Wall Street Journal.

Sendo os setores do imobiliário e indústrias relacionadas responsáveis por 25% do PIB chinês, de acordo com a Bloomberg, não surpreende que estas restrições ao financiamento tenham consequências visíveis no crescimento económico global do país.

A segunda razão fundamental para esta desaceleração do crescimento é a crise energética vivida no país. Desde a recuperação nos consumos pós-pandemia, a escassez de matéria-prima para produzir energia e o próprio objetivo de descarbonizar a economia, vários são os fatores que agravam esta crise, que, nas palavras de Lauri Myllyvirta, lead analyst na Centre for Research on Energy and Clean Air, “em termos de racionamento de energia generalizado, diria que este é o pior numa década”.

Não é caso para menos: segundo o Global Times, a energia está a ser cortada a áreas residenciais por horas ou até mesmo dias a fio. O setor industrial também sofre com as restrições impostas pelo governo ao consumo de energia.

A fornecedora da Apple ($AAPL), Unimicron Technology Corp ($3037.TW), por exemplo, comunicou que três das suas subsidiárias chinesas pararam durante vários dias a sua produção no mês passado, de acordo com a Reuters. Estas disrupções na produção têm não só consequências para o desempenho económico chinês, mas também para a cadeia de fornecimentos mundial, já que, de acordo com o Financial Times, quase 150.000 empresas, entre as quais se encontram gigantes fornecedores de componentes eletrónicos para empresas de todo o mundo, sofreram com cortes de energia só no último mês.

Mas qual é a origem desta crise energética?

Há várias razões para a China ter chegado ao ponto de necessitar de racionamento energético, que, em conjunto, formaram uma tempestade perfeita. Segundo a Argus Media, a tempestade começou literalmente na Indonésia, onde chuvas intensas fizeram parar a produção de carvão, o que aumentou o seu preço.

Tendo a China um sistema de controlo de preços de eletricidade, a subida do custo do carvão significa que as produtoras não conseguem passar esse custo aos consumidores, e então a decisão de parar com a produção energética é a única que evita prejuízos, de acordo com Myllyvirta. 

Há também algumas fontes, como a France24, que sugerem que o objetivo de descarbonização chinês é também um fator para a crise energética. A razão apresentada é a tentativa de conter a produção a carvão para cumprir com o objetivo definido estrategicamente de atingir o pico das emissões de CO2 antes de 2030.

Esta redução de fontes de energia poluentes leva, no entanto, a uma dependência de fontes cuja produção varia conforme a meteorologia, como a eólica que, segundo a CNBC, viu reduzido o seu crescimento, e a hídrica que decresceu em julho e agosto, comparado com o ano anterior. 

Para resolver esta crise, a China vê-se obrigada a adotar medidas que, por sua vez, também têm consequências graves. Uma das medidas será liberalizar os preços da energia. Esta medida, ao mesmo tempo que dá um incentivo de mercado às energéticas para aumentar a sua tão necessária produção, poderá pôr em causa os objetivos ecológicos do Partido Comunista Chinês, uma vez que, segundo o Público, 60% da produção de eletricidade chinesa é feita a partir da queima do poluente carvão.

Por outro lado, o acréscimo do preço do carvão, e, por conseguinte, na eletricidade, fará com que os preços dos bens produzidos na China sofram também um aumento, levando a uma pressão inflacionária que, segundo a Forbes, poderá chegar a proporções mundiais.

Autor: Francisco Castro Silva

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