Para um investidor de valor, a estratégia de investimento passa por comprar ações de empresas que tenham um preço baixo e esperar que o mesmo suba. Mas quando é que se sabe que o preço está baixo? Calculando o valor intrínseco da empresa, ou seja, o valor justo da empresa tendo em conta os resultados do passado e as expectativas de futuro, e comparando este valor com o preço de mercado da ação. Se o valor intrínseco for inferior ao preço de mercado, a empresa está sobrevalorizada. No caso contrário, a empresa estará subvalorizada, sendo aí que o investidor de valor irá observar com maior atenção antes de investir. Mesmo estando abaixo do valor intrínseco é ainda necessário que esteja suficientemente baixo para haver uma margem de segurança para reduzir os riscos de perda do capital investido.
Nesta publicação iremos demonstrar uma forma de cálculo deste valor intrínseco para empresas com um historial financeiro de pelo menos 5 anos, baseada no livro “Rule #1” de Phil Town.
Quais são as informações necessárias para calcular o valor intrínseco?
Neste método de cálculo serão necessários 4 tipos de informações:
- Earnings Per Share atual (EPS);
- Taxa de crescimento futura dos Earnings Per Share (EPS growth rate);
- Futuro “Price to Earnings” (PE);
- Retorno anual mínimo aceitável.
EPS e taxa de crescimento futura
O EPS como o nome indica é o valor dos rendimentos da empresa a dividir pelo número de ações da mesma. Irá representar sempre os rendimentos da empresa e pode ser encontrado em websites como o Yahoo Finance ou o MSN Money. Sabendo o valor do EPS para, por exemplo, 10 anos, podemos saber qual a taxa de crescimento. Alguns websites apresentam logo estes valores de percentagem de crescimento anuais, como o quick fs. No entanto, o cálculo da percentagem de crescimento é simples, basta utilizar a fórmula seguinte para cada um dos anos:

Depois de obter a percentagem de crescimento para cada ano, basta fazer a média desses valores e terá o EPS growth rate para o período de tempo analisado.
No entanto, também existe uma relação forte entre a taxa de crescimento da Equity (Equity growth rate) da empresa e a EPS growth rate. A Equity neste caso corresponde à diferença entre o valor dos ativos da empresa, como por exemplo uma fábrica, maquinaria, etc, e as responsabilidades (Liabilities), como dívidas, por exemplo. Deve-se, por isso, calcular também a taxa de crescimento da Equity, recorrendo à equação anterior, adaptada para os valores da Equity em cada ano.
Estes valores encontram-se muitas vezes nas plataformas online das corretoras, mas também podem ser encontradas nos sites Yahoo finance e MSN Money, apesar de estes apenas apresentarem a informação dos últimos 4 anos. Para aceder à informação toda resumida é preciso subscrever a um serviço pago em alguns websites. Essa informação encontra-se disponível em bruto em websites como o Quick fs, fornecendo acesso aos relatórios de todas empresas norte-americanas como os “10-Q”, relatórios trimestrais, e “10-K”, relatórios anuais. Estes relatórios são ótimas fontes de informação sobre a empresa em análise.
Depois de se obter a taxa de crescimento da Equity, deve-se comparar com a taxa de crescimento dos EPS calculadas anteriormente. Para evitar ao máximo os riscos do investimento, deverá escolher-se a taxa de crescimento mais conservadora para se continuar nos cálculos.
Futuro PE
O valor do Price to Earnings corresponde ao preço de toda a empresa dividido pelos seus rendimentos. O valor futuro deste parâmetro é sempre uma incerteza e, por esse motivo, por defeito, deve-se consultar um website, como o MSN Money, e recorrer à média entre o valor histórico do PE mais alto e do mais baixo.
Por outro lado, como regra geral, o valor do PE costuma ser cerca de duas vezes superior à taxa de crescimento futura dos EPS. Dessa forma, basta multiplicar o valor obtido do passo anterior (Taxa de Crescimento futura dos EPS) por 2.
Novamente, deverá ser usado o valor mais baixo das duas opções anteriores.
Retorno anual mínimo aceitável
Para um investidor que siga esta estratégia, não deverá contentar-se com um retorno anual inferior a 15%, uma vez que é um retorno alcançável e irá aumentar rapidamente o capital investido.
Cálculo do valor intrínseco
Agora que já tem todas as peças do puzzle, pode-se avançar para os cálculos.
- Começa-se por fazer crescer o valor dos EPS atual com a taxa de crescimento futura escolhida. Por exemplo, se a taxa escolhida foi de 15% e os EPS atuais são de 1 euro, no ano seguinte o EPS será de 1,15 euros. No ano seguinte o EPS será 1,3225, e assim sucessivamente. Basta sempre somar 15% do valor do EPS do ano anterior ao valor do ano anterior;
- Ao fim de 10 anos (ou do número de anos em que forem feitas as contas, apesar de ser aconselhável serem mais de 5 anos) obtém-se um valor de EPS. A esse valor multiplica-se o futuro PE e obtém-se o valor estimado da ação da empresa ao fim de 10 anos;
- Para saber o preço da ação a que o investidor deve comprar hoje para ter um retorno de 15%, deverá proceder-se da mesma forma que no passo 1, mas na ordem inversa, ou seja, descontar 15% a cada ano durante 10 anos. Para simplificar, como a taxa a descontar é de 15% durante 10 anos, basta dividir o valor futuro da ação por 4. O valor final será o valor intrínseco!
O método de cálculo poderia ser resumido pela seguinte fórmula:

Onde:
- g = EPS growh rate
- r = taxa de retorno mínimo exigido
Esta é apenas uma das formas de se calcular o valor intrínseco de empresas que sejam previsíveis, ou seja, têm idade e consistência suficientes para haver informações com que se possa trabalhar.
É de notar que comprar ações de uma empresa no seu valor intrínseco nunca é uma garantia de sucesso no investimento e, por isso, deve-se sempre comprar as ações a um valor mais baixo. Designa-se por uma margem de segurança, que irá diminuir os riscos inerentes ao mercado e ao desempenho futuro da empresa.
Autor: André Azevedo