Cinco indicadores cruciais que considero ao analisar ações para investir

O investimento em ações é uma oportunidade que atrai muitas pessoas que procuram alta rentabilidade para o seu dinheiro. Se chegaste até aqui, é possível que tenhas interesse em investir em ações. Este será um artigo longo, mas vale a pena ler até ao fim.

Antes de começarmos, é importante esclarecer algumas coisas. Existem duas abordagens principais para a análise de ações: análise técnica e análise fundamental. A análise técnica olha para o gráfico da cotação de uma ação para tentar perceber a tendência, enquanto a análise fundamental olha para os números da empresa para perceber o negócio. Neste artigo, vou partilhar informações sobre a análise fundamental.

É importante lembrar que o investimento em ações tem risco de perda total de capital. Nunca invistas mais do que podes perder e gere o risco de forma adequada.

Antes de partilhar as cinco coisas que prometi, aqui vai um bónus: onde encontrar a informação financeira das empresas? Existem várias opções, mas pessoalmente recomendo o Simply Wall St. Esta plataforma recolhe todas as informações necessárias das empresas e produz relatórios detalhados e simples de ler para que possas tomar uma decisão informada.

Agora, vamos às cinco coisas que procuro no Simply Wall St para decidir em que empresas investir.

  • Price to Earnings Ratio

Este indicador (também chamado P/E) calcula-se dividindo o preço de cada ação em mercado pelos “ganhos por ação”, ou seja o total de ganhos da empresa divididos pelo número de ações existentes. Encontras uma explicação totalmente detalhada aqui.

Este indicador é importante porque te pode ajudar a perceber se uma empresa está sobrevalorizada ou subvalorizada em relação ao seu valor “real”, já que compara os resultados que a empresa produz com o valor que as pessoas estão a pagar em mercado. Se a cotação, o “Price”, for muito acima dos “Earnings” então a empresa pode estar sobrevalorizada, e vice-versa.

Como exemplo apenas, vamos usar uma empresa que todos conhecemos: a Sonae SGPS. Esta é a informação disponível no Simply Wall St:

Earnings Per Share – Company Filings (30/06/2021) = €0.069

Share Price (18/08/2021) = €0.89

PE Ratio = 0.89 ÷ 0.069 = 12.91x

Ora, sendo este um indicador que pode revelar a subvalorização ou sobrevalorização, então queres que o rácio seja o mais baixo possível, já que isso mostrará uma potencial subvalorização. Se tiveres um resultado muito alto, pode significar que a cotação da ação está num valor muito acima do seu valor “real” quando olhamos aos ganhos.  É importante perceber a comparação com o mercado onde a empresa se insere e a sua indústria, já que empresas diferentes têm resultados financeiros diferentes. O Simply Wall St também te faz esta comparação toda, não te preocupes).

Se quiseres encontrar uma referência, no link acima do Investopedia que partlihei, vês que a média a longo prazo do S&P500 é de 16x.

  • Price to Book Ratio

Agora vamos falar do Price to Book, também chamado P/B. Se o anterior comparava a cotação das ações com os seus ganhos por ação, olhando para os seus resultados financeiros, este vai comparar a cotação da ação com o valor da empresa olhando para o seu balanço e dividindo pelo número de ações existentes. Lembras-te de termos falado por aqui no teu património líquido ser o teu ativo menos o teu passivo? É isto que estamos aqui a falar. Uma empresa (o seu book value) é, de forma resumida exatamente a mesma coisa, o seu ativo deduzido do seu passivo. Mais detalhes sobre o rácio aqui.

Vamos novamente olhar para a nossa Sonae no Simply Wall St e temos:

Book Value per Share – Company Filings (30/06/2021) = €1.04

Share Price = €0.89

PB Ratio = 0.89 ÷ 1.04 = 0.85x

Este indicado, tal como o P/E, mostra uma indicação potencial se uma empresa estará sobrevalorizada um subvalorizada, mas desta vez em relação ao seu balanço e não necessariamente aos seus resultados. São duas abordagens diferentes para a “mesma” questão.

Mais uma vez, como referência, encontras aqui que o P/B médio do S&P500 nos últimos 20 anos tem sido de 2.89x.

  • Debt to Equity

Este indicador mostra a capacidade que a empresa tem de suportar e pagar a sua dívida apenas com o seu capital próprio (ativo – passivo) e isto mostra a solidez financeira da empresa. Podes encontrar mais informações aqui.

De uma forma simplificada, e aplicando à tua realidade, se tiveres 40.000€ de dívida e um património líquido (ativo – passivo) de 100.000€, então tens um Debt to Equity de 40%, entendes? Por esse motivo, deves procurar um rácio o mais baixo possível, já que isso revela um baixo endividamento da empresa face ao seu património.

Deves ter em consideração a realidade da empresa. Se for um negócio recente e que necessite de muito capital então é normal que este rácio seja muito superior. Para teres uma ideia, a Tesla tinha, a 31 de dezembro de 2019, um resultado de 145%. Um ano depois era de 43%. Como qualquer indicador, nunca podes olhar para o valor como algo estagnado e desligado da realidade. Tens de perceber toda a sua envolvente.

  • Cash to Debt

Este indicador mostra quanto dinheiro efetivamente tem uma empresa comparado com a sua dívida e tu queres que este valor seja alto, já que isto mostra que a empresa tem capacidade de pagar toda a sua dívida, utilizando apenas o dinheiro que tem “em caixa”, sem ter de vender os seus ativos.

Mais uma vez, aplicando à tua realidade. Se tens os tais 40.000€ em dívida de há pouco, tens 200.000€ em ativos mas apenas 10.000€ são em dinheiro vivo então o teu Cash to Debt é de 25%. Caso sejas obrigado a pagar a dívida rapidamente, então terás de vender outros ativos para conseguir pagar tudo. Se tiveres mais de 40.000€ em dinheiro então, o teu rácio é superior a 100% e não precisas de o fazer.

  • Dividendos

Os dividendos são uma parte importante do retorno de investimento em ações. Para analisar os dividendos de uma empresa, é necessário prestar atenção a alguns indicadores-chave. Aqui estão os 5 principais:

  1. Dividend Yield – É a rentabilidade do dividendo e é calculado dividindo o “dividendo por ação” pela “cotação da ação”. O objetivo é encontrar o maior valor possível.
  2. Percentagem distribuída – A empresa pode optar por distribuir mais ou menos valor. Analisa quanto do lucro gerado está a ser distribuído e quanto está fica retido na empresa para futuros investimentos.
  3. Estabilidade – Analisa há quantos anos a empresa paga dividendos e se a distribuição é estável. Procura empresas que tenham um histórico estável e confiável de pagamentos de dividendos.
  4. Crescimento – O pagamento de dividendos deve estar relacionado com o crescimento da empresa. Procura empresas que mostrem uma ligação clara entre o crescimento da empresa e o crescimento do dividendo pago.
  5. Ganhos da empresa – O pagamento de dividendos deve estar ligado aos ganhos da empresa. Se a empresa tem uma redução de lucro e, mesmo assim, aumenta o dividendo, algo está errado. Distribuir mais do que aquilo que é ganho não é sustentável a longo prazo.

E é isto que tenho para partilhar contigo sobre este tema.

Como disso no início, estes são (alguns) indicadores que para mim fazem sentido e que procuro, mas tu deves fazer a tua própria análise e estabelecer a estratégia que for adequada para ti 🙂

Boa sorte nessas análises e bons investimentos!

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