Afinal, qual a identidade e potencial da Bitcoin?

Afinal, qual o valor de referência da Bitcoin ($BTC)? Qual seria a sua verdadeira identidade: moeda de troca, reserva de valor, investimento? Quais as chances da Bitcoin substituir o ouro ou se tornar moeda fiduciária? Entenda mais sobre este criptoativo e seu potencial real. 

O limite das criptomoedas

A ideia de uma moeda descentralizada atrai a todos: transacionar de maneira segura, rápida, anónima e sem a intervenção de órgãos privados ou governamentais. Entretanto, a possibilidade de uma moeda digital se tornar a moeda de troca do dia-a-dia acaba por ser uma realidade distante, já que nenhum governo abrirá mão do controlo da sua própria moeda. 

Pode tomar-se como exemplo o ouro, a moeda mais antiga do mundo e utilizada até hoje. Mesmo depois da sua substituição pelas moedas fiduciárias, continua a ser um ativo de reserva essencial nos bancos centrais dos mais diversos países. Porém, sempre que o ouro representou uma ameaça ao poder do governo como controlador do dinheiro, os legisladores rapidamente intervieram. 

Por exemplo, durante a Grande Depressão nos EUA, em 1931, o presidente Franklin Roosevelt, forçou os americanos a entregar seu ouro ao governo a taxas abaixo do mercado para que mais dólares pudessem ser impressos. Ou o caso da Austrália e Reino Unido nas décadas de 1950 e 1960, onde o ouro foi “confiscado” a fim de impedir a desvalorização das suas moedas.

Identidade da Bitcoin

Conforme mencionado, a probabilidade de a Bitcoin se tornar moeda de troca diária e substituir o dinheiro é muito pequena, já que as legislações de cada país não permitiriam tal acontecimento.

Do ponto de vista ideológico e de investimentos, a Bitcoin é uma commodity que em muito se parece com o ouro. Ao contrário do ferro, cobre e petróleo, o ouro não tem propriamente uma função, porém, a cada ano, as explorações de ouro continuam a crescer e, os bancos centrais continuam a deter toneladas do metal nas suas reservas.

Assim, como classe de ativos, o ouro e a Bitcoin acabam por ser muito parecidos: essa moeda digital, assim como o ouro, tem pouca utilidade real, possui suprimento limitado e, o valor de ambas não depende da política monetária, e sim da oferta e procura.

O ouro pode ser substituído pela Bitcoin?

Como já dito, o ouro é uma reserva de valor. Todavia, é uma reserva de valor dispendiosa em termos logísticos e de negociação. Nesses aspectos, a Bitcoin poderia substituir o ouro como uma moeda de valor mais conveniente. 

A valorização e popularidade da Bitcoin, que no início era ridicularizada como dinheiro fictício, são notórias. Principalmente durante a pandemia, muitos investidores passaram a reconhecer a moeda digital como uma alternativa legítima aos ativos tradicionais.

Correlações da Bitcoin

Até à pandemia, os preços da Bitcoin não tinham direção definida e o seu valor não se correlacionava com nenhum ativo conhecido. Mais recentemente, a sua tecnologia tornou-se mais conhecida e o preço começou a acompanhar os movimentos da Nasdaq ($IXIC), bolsa de valores dos EUA que sedia fundamentalmente empresas de tecnologia. Essa correlação aumentou exponencialmente e, em 2020, chegou a 0,8 (numa métrica onde 1 significa variáveis que se movem em sincronia perfeita).

Entretanto, no último mês (setembro de 2022), a Bitcoin assumiu certa independência dessas ações de tecnologia, quando o índice Nasdaq caiu 12% e a criptomoeda se manteve estável. Mas essa autonomia da Bitcoin não se manteve por muito tempo, já que na última semana, após a divulgação de uma inflação nos EUA maior que a esperada, a moeda digital desvalorizou assim como as ações, o que mostra que ainda é cedo para se tirar conclusões.

Mais ainda, no último mês, a Bitcoin acabou por apresentar correlação positiva com o ouro, o que, historicamente, não é comum.

Estes ativos estão agora a começar a ser taxados e regulamentados em vários países, o que pode acabar por influenciar negativamente a procura das mesmas, que agora começam a pagar impostos. É o caso de Portugal, que, no OE2023, apresentou que os ganhos a curto prazo com criptomoedas terão de pagar 28% de impostos. 

Assim, ainda há muito a ser descoberto sobre a direção que a Bitcoin, assim como outras criptomoedas, podem seguir. Não se pode negar, entretanto, o seu potencial e popularidade. 

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Maysa Deliberador

Maysa Deliberador, 25 anos, licenciada em Gestão pela Universidade Católica de São Paulo, atualmente frequenta o 3º ano da licenciatura em Psicologia na Universidade Católica Portuguesa. Seu interesse no impacto dos acontecimentos políticos e econômicos nas pessoas e sua paixão pela escrita fez com que se tornasse embaixadora da MeuCapital.