A escassez de Chips vs Escassez de petróleo nos anos 70

O mundo está a enfrentar uma crise no que toca aos stocks de chips e componentes. Com o encerramento de muitas empresas no ano passado devido à covid-19, deu-se um défice de produção, que se está a fazer sentir agora. A indústria de chips está em grande crescimento e atualmente quase tudo incorpora eletrónica, como é o caso dos computadores, smartphones, câmeras, eletrodomésticos, e claro, os automóveis. No total, as receitas da indústria de semicondutores cresceram 10,8% no ano passado, atingindo os 386 mil milhões de euros. Antecipa-se que o mercado continue a crescer ainda mais este ano, devido ao crescimento contínuo da procura por chips nos segmentos de consumo, computação, 5G e indústria automóvel. A previsão é de uma subida de 12,5% para 434 mil milhões de euros, apesar das dificuldades resultantes da escassez de componentes.

Na década de 70, o mundo dependia fortemente do petróleo e qualquer mudança na oferta tinha um grande impacto na procura. Quando a OPEC, sigla para Organização dos Países Exportadores de Petróleo, aumentou o preço da matéria-prima, o preço do barril de petróleo nos Estados Unidos subiu de 3 dólares no início da década de 70 para 13 dólares no fim da mesma. Este pico no preço do barril beneficiou empresas como a Chevron ($CVX) e a Exxon Mobil ($XOM), que na mesma década tiveram retornos de 100% e 70%, respetivamente. Por outro lado, este aumento foi negativo para outras empresas que com o aumento da inflação enfrentaram dificuldades, com o S&P 500 e o Dow Jones Industrial, na década de 70, a subir apenas 17% e 5% respetivamente.

Se o petróleo era imprescindível na década de 70, hoje em dia, os chips têm o mesmo carácter, dando energia a toda a tecnologia que utilizamos. Aproximadamente 80% da produção de semicondutores é realizada no nordeste da Ásia e já alguns países começaram a realizar planos de reestruturação na indústria para que a produção não esteja tão concentrada nessa zona do planeta, com Joe Biden a apresentar um plano de 50 mil milhões para pesquisa e desenvolvimento de chips. Este plano pode beneficiar algumas empresas tais como a Intel ($INTC), AMD ($AMD) e Nvidia ($NVDA).

Num futuro próximo, a escassez pode inflacionar o preço dos chips e posteriormente dos restantes produtos, o que já se está a verificar na indústria automóvel. Os carros elétricos necessitam de mais componentes elétricas, o que está a levar a uma inflação generalizada neste setor, com os carros usados a aumentar o preço em 20% no primeiro semestre de 2021, enquanto os carros novos aumentaram cerca de 3%. Empresas como a Ford ($F) e a General Motors ($GM) irão certamente beneficiar desta situação, tendo já subido 43% e 17%, em 2021, respetivamente.

Com a escassez de chips muitas empresas poderão obter benefícios, tanto empresas produtoras de semicondutores, empresas de automóveis e também empresas de tecnologia. Poderemos assistir a uma inflação descontrolada do preço dos chips? E poderá ocorrer a mesma situação da década de 70 com o petróleo, ou num futuro próximo a situação estará mais controlada?

Autor: Samuel Lourenço

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